25 março 2016

TERROR EM BRUXELAS

Deixou Bruxelas tomada de pânico.
Voltar para casa, reencontrar a família, as pessoas amigas, a segurança no passo seguinte lhe pareceu o melhor e mais imediato remédio.
O voo sem turbulências, o serviço de bordo atencioso, o cabernet de boa cepa, a música suave no fone de ouvidos e a visão do sol mergulhando ao longe no mar plácido permitiram que se entregasse ao primeiro cochilo sem recidiva do horror dantesco de corpos despedaçados no chão ensanguentado da estação do metrô, da fumaça sufocante, da correria desabalada, daquele grito agudo desesperado de criança em choro convulso, para ela a síntese da impotência humana ante o terror.
O toque suave da moça pedindo quase em sussurro que voltasse a poltrona à posição vertical para o pouso trouxe-lhe ao rosto o primeiro sorriso espontâneo em três dias. Agradeceu, desligou o iPhone, afivelou o cinto, procurou na bolsa o batom vermelho, aprontou-se para o regresso após cinco anos ao aconchego da terra em que nasceu e viveu feliz por duas décadas...
A esteira silenciosa da sala apinhada de viajantes trazia pertences e lembranças guardados em grandes malas e pacotes de variadas cores e formatos.
A dela era vermelha, quase rosa.
...
Recuperou os sentidos ainda estirada no piso frio do saguão do aeroporto, o corpo tomado por dores lancinantes, a cabeça latejando, o vestido vermelho rasgado, a nudez do corpo vergastado exposta, as pedras rubras do colar de singelo e delicado artesanato quebradas e amontoadas dentro de um boné verde-amarelo deixado também no chão próximo a ela.
Recordou aterrorizada do urro do homem enfurecido à frente da malta uniformizada. 
- Vermelho!
O primeiro soco dele a atingiu na testa, confundindo-lhe os sentidos. Seguiram-se sarrafadas nos braços que tentou erguer em tímido gesto de defesa, mais tapas e socos de outros homens e mulheres... já caída, pontapés e cusparadas até desfalecer.
Percebeu o rosto do pai aproximar-se do seu, a mão a lhe sustentar a cabeça pela nuca, soergueu-se para abraçá-lo tímida à procura de conforto...
Estancou terrificada ao ver o rosto do pai pintado de verde e amarelo, o olhar rútilo...
Sentiu uma lágrima brotar-lhe dum canto de olho antes de desmaiar.

15 março 2016

LIBERAIS MOVIMENTAM A MASSA QUE CLAMA POR UM MESSIAS

Março de 2016, Sérgio Moro e João Dória Jr., pré-candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, 

 A cartilha liberal é canhestra até a náusea. E não é nova como ela própria tenta se mostrar. Apresentam o cenário do país com a síntese "economia em crise, inflação e desemprego crescente e descrença total nos partidos políticos" (o que chamam de "os políticos", como se não o fossem eles também políticos militantes engajados)

A resposta que dão pra vencer essa crise é "uma nova cultura política" (que não apresentam sequer o vulto).
O primeiro e essencial passo é a genial sacada: tirar Dilma e...
Depois do e... engasgam e tergiversam, desconversam, enrolam, ficam roxos e chamam "os mercados" pra ajudar a explicar. Conseguem dizer que sabem o que o povo "não quer".
O que poderia agradar ao povo o mercado não consegue resolver.
Mercado pra presidente só se ele incorporar num semovente.
São incapazes de dizer: alguém que vá operar contra a massa trabalhadora, rebaixar-lhes os salários, acabar com a indexação de qualquer coisa ao salário mínimo, mesmo acabar com o salário mínimo...
Por fim, recorrem ao messianismo; "algo deverá ser feito", "alguém deve surgir pra fazer isso".
Não morro de rir porque essa indigência é trágica.
Fico triste com tanta boçalidade militante de liberais que se supõe novos.
______
Post Script: O juiz Sérgio Moro saiu vitorioso nas manifestações de 13 de Março, assim com Bolsonaro (bem mais à direita que um liberal clássico).