29 dezembro 2007

Lula é o preferido dos últimos 20 anos e faz balanço da gestão*


O Instituto Brasmarket divulgou na última semana pesquisa que mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é considerado o melhor presidente do Brasil dos últimos 20 anos, desde a redemocratização. O levantamento, feito na capital paulista, revela que o presidente petista tem o apoio da população mesmo em temas espinhosos, como a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e a transposição do Rio São Francisco.

Lula apareceu com 51,5% da preferência, superando com folga a soma de seus quatro últimos antecessores - que foi de 31,5%. O tucano Fernando Henrique Cardoso registrou 17,6%, o agora senador José Sarney (PMDB-AP) foi lembrado por 5,7%, seguido do também senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), com 4,1%, mesmo percentual do vice que assumiu após o impeachment do alagoano, Itamar Franco. O percentual dos pesquisados que se negaram a apontar um preferido foi de 17%.

O instituto perguntou aos entrevistados qual a real motivação que levou o Congresso a extinguir a CPMF. A maioria respondeu que o fim do "imposto do cheque" se deveu ao interesse da oposição em prejudicar o presidente Lula (30,8%) e em benefício de ricos e empresários (23,4%). Para 17,9% dos entrevistados o interesse no fim do tributo foi do povo em geral e para 11% o benefício é dos mais pobres. Outros 17% não quiseram opinar.

São Francisco - O Brasmarket quis saber dos paulistanos qual a opinião sobre o polêmico projeto de integração de bacias do Rio São Francisco. Questionados sobre quem tinha razão no imbróglio, mais uma vez Lula se saiu bem. Para 49,6% dos entrevistados o presidente está correto, enquanto que 19,5% preferem o posicionamento bispo de Barra (BA), dom Luiz Cappio, que chegou a fazer greve de fome para impedir, sem sucesso, o início das obras. Outros 13,6% acham que nenhum tem razão, enquanto 3,3% dividem os méritos. Não quiseram responder ao questionamento 13,9% dos entrevistados.

A preferência por Lula, na avaliação do professor de Ciências Políticas do Centro Universitário do Distrito Federal (Unidf), Leonardo Barreto, é devido ao seu estilo carismático de liderar. "Ele é tão forte que é difícil ver um sucessor. Conseguimos enxergar candidatos a presidente, mas ninguém com a dimensão dele", afirma. Barreto adianta que o mito Lula vai criar grandes dificuldades para quem tiver a missão de substituí-lo a partir de 2011.

Com relação a discussão da CPMF, o professor acredita que o resultado se deve também ao fato de a maior parte da população não pagar o tributo de maneira direta, somado à constatação de que foram os próprios PSDB e DEM que criaram a CPMF. "A população não enxergou sinceridade no discurso da oposição. Eles não pareciam ser realmente contra, até porque o PSDB negociou até a última hora e foi o partido, junto com o DEM, que criou a CPMF".

Para o professor, o levantamento mostra que a tentativa da oposição de levantar a bandeira em favor de menos impostos foi fracassada. Barreto observa também que a impressão da população é que a disputa foi apenas partidária. "A pesquisa mostra que tudo foi visto como uma simples briga partidária e o discurso do governo de que o dinheiro era para a saúde e para os programas sociais ecoou na sociedade".


Presidente lamenta perda da CPMF, mas respeita decisão do Congresso
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na última semana, em pronunciamento à nação, que lamenta a rejeição, pelo Senado, da emenda que prorrogava até 2011 a CPMF, mas que respeita a decisão do Congresso Nacional. "Infelizmente, esse processo foi truncado com a derrubada da CPMF, responsável em boa medida pelos investimentos na saúde. Como democrata, respeito a decisão tomada pelo Congresso. E estou convencido de que o governo, o Congresso e a sociedade, juntos, encontrarão uma solução para o problema", afirmou.

O processo ao qual o presidente se refere inclui as ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previstas para a área de saúde, mais conhecido como PAC da Saúde. O programa prevê, entre outras ações, o oferecimento de consultas médicas, inclusive com oftalmologistas, e dentárias a todas as crianças matriculadas em escolas da rede pública de ensino.

"Na saúde, no começo de dezembro, lançamos o PAC, que destinaria, até 2010, mais R$ 24 bilhões para o setor. Entre outras coisas, todas as crianças das escolas públicas passariam a ter consultas médicas regulares, inclusive com dentistas e oculistas", explicou.

Na área de educação, Lula destacou a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). De acordo com o presidente, até 2010, serão aplicados R$ 12 bilhões a mais nos ensinos médio e fundamental, reforçando os salários dos professores e equipando as escolas.

Energia - Durante o pronunciamento, o presidente destacou ainda que serão abertas mais dez universidades no interior do país, além de mais 48 extensões universitárias e 214 escolas técnicas. Lula também anunciou que, no próximo ano, o óleo diesel usado como combustível terá acréscimo de 2% de biodiesel. "A partir do dia 1º de janeiro, daremos um novo passo, adicionando 2% de biodiesel a todo o óleo diesel consumido no País. Nossa matriz energética é, e continuará sendo, uma das mais limpas do mundo", disse ele.

Ainda sobre o PAC, Lula destacou que o investimento previsto para os próximos anos é de R$ 504 bilhões em rodovias, ferrovias, hidrovias, energia, portos e aeroportos, habitação, água potável e saneamento básico. Lula voltou a falar sobre a ascensão de cerca de 20 milhões de brasileiros das classes D e E para a classe C nos últimos cinco anos e disse que isso é uma grande notícia para o país.

No final do pronunciamento, Lula afirmou que se sente o mais satisfeito e, ao mesmo tempo, o mais insatisfeito dos brasileiros, porque, apesar de o governo já ter feito muito, "ainda é pouco diante da nossa dívida social". O presidente desejou ainda um feliz 2008 para todos os brasileiros.


Brasil fecha 2007 com menor endividamento em 9 anos
A economia feita pelo setor público brasileiro para o pagamento de juros em novembro ficou abaixo do estimado por analistas, mas o resultado acumulado no ano é recorde e já supera a meta do governo para o ano em mais de R$ 17 bilhões, informou o Banco Central na última sexta-feira (28).

O superávit primário elevado, aliado ao crescimento da economia e à inflação, contribuiu para reduzir o endividamento do país a 42,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no mês passado, menor patamar desde dezembro de 1998, quando a relação dívida/PIB estava em 38,9%.

A expectativa do BC é que, em dezembro, o endividamento fique em, no mínimo, 43,5% do PIB, também menor valor anual desde 1998.O superávit primário foi de R$ 6,817 bilhões em novembro, ante superávit de R$ 5,605 bilhões em igual mês do ano passado.

Analistas consultados pela Reuters esperavam um superávit de R$ 8,2 bilhões, de acordo com as projeções de dez economistas.Segundo o chefe de Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o que surpreendeu foi o resultado das estatais, que registraram no mês um superávit de apenas R$ 26 milhões.

O governo central, em compensação, fez um superávit fiscal de R$ 4,784 bilhões, o maior para novembro da série do BC, iniciada em 1991. Estados e municípios registraram um superávit de R$ 2 bilhões.No acumulado do ano, o resultado primário soma R$ 113,387 bilhões, frente a uma meta de R$ 95,9 bilhões.

Em outubro, o endividamento havia fechado em 43,2% do PIB. Lopes afirmou que, em novembro, contribuiu para a redução da dívida a depreciação cambial de 2,28%, uma vez que o país é ativo em câmbio.

Nos últimos meses, a queda do endividamento tem sido reflexo do resultado primário e do crescimento do PIB. A inflação relativamente elevada medida pelo IGP-DI também tem contribuído para reduzir a relação. É que o indicador é usado para trazer os valores do PIB a preços correntes para efeitos de cálculo da relação dívida/PIB.

"A tendência de queda mostra a sustentabilidade da dívida. Isso reduz o risco e a percepção dos investidores e isso pode se refletir em um custo mais baixo da dívida", afirmou Lopes a jornalistas. Em 12 meses encerrados em novembro, o superávit primário ficou em patamar equivalente a 4,22% do Produto Interno Bruto (PIB).
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* Publicado por Informes PT, ded 28.12.2007

26 dezembro 2007

Um 2008 mais feliz do que queiras, apesar dos pesares

Leio pouco, mas leio mais.

E percebo que além das tormentas de verão, outras sobrevirão, ainda que a vênus platinada insista em esconder de você e os desgraçados continuem se matando bêbados nas estradas e matando outros que nem chegaram a ficar bêbados antes de morrerem sem se dar conta de porque.
Então, passeie-se por outras notícias do dia.
Saia da estrada antes que um avião caia na sua cabeça.

Dois dos maiores fabricantes automóveis chineses anunciam fusão
Diário Económico • 26/12/2007
A SAIC, a maior fabricante de automóveis da China, anunciou hoje que firmou um acordo para comprar o negócio de componentes para automóveis a uma das suas principais rivais, a NAC, que dará lugar a uma empresa com fortes aspirações para competir com os grandes produtores internacionais.

Exportações de armamento russo atingem novo recorde em 2007
Diário Económico • 25/12/2007
As exportações de armamento da Rússia conseguiram este ano um novo recorde para o país, ao superarem os 7 mil milhões de dólares (4,85 mil milhões de euros), o que representa um aumento de 7,7% face ao anterior recorde estabelecido no ano passado.

Barril de petróleo na Europa supera os 93,35 dólares
Do mesmo Diário Económico de Portugal, que ainda nos adiantou expectativa de que o movimento do comércio de bye bye noel nos estados unidos poderá ter sido o pior desde 2002.

Some-se dois mais dois e veremos que cinco vem depois.

(se alguém que ainda não o fez quiser ler minha novela O dia do descanso de Deus tem que se apressar, que restam apenas 120 exemplares. Não corra, não mate e não morra por isso: http://coisaegente.blogspot.com)

Adroaldo Bauer Corrêa

18 dezembro 2007

E só!

Paulo Henrique Amorim – O senhor não gosta do Bush?


Oscar Niemayer – Eu acho que ele é um merda, sabe.




Niemeyer 100 anos



Paulo Henrique Amorim – Devo chamá-lo como?

Oscar Niemayer – Oscar.


Paulo Henrique Amorim – Oscar, a nossa conversa tem como propósito celebrar, no dia 15 de dezembro, os seus cem anos.


Oscar Niemayer – Você sabe que eu fiz um artigo na IstoÉ em que eu contava uma conversa que eu tive comigo mesmo, com esse ser misterioso que tem dentro de nós. Então eu dizia para mim mesmo: "Oscar, não vai nessa conversa de cem anos, isso é ridículo, não tem interesse nenhum, não cai nessa..." e eu sou obrigado, às vezes, a participar da conversa.


Paulo Henrique Amorim – Mas o senhor tem uma frase muito bonita que diz que "a vida é um sopro". Mas o seu sopro já dura, pelo menos, cem anos.


Oscar Niemayer – É o destino... não sei. Eu olho para trás, não sou como os outros que dizem que fariam tudo igual, eu faria muita coisa diferente. A vida é difícil, a vida nos leva nas coisas que às vezes a gente não quer. Eu me lembro do Jorge Saldanha que vinha aqui quase todos os sábados e dizia, se queixava, "a gente não pode fazer plano nenhum que o destino muda, não é? A vida é cheia de surpresas". A própria situação internacional depende do inesperado, acontece qualquer coisa e muda tudo. De modo como vive assim uma posição muito precária e que vindo de baixo do universo e achando que é importante, na realidade pouca coisa é importante. A vida é um sopro, a gente vem, conta uma história e todo mundo esquece depois.


Paulo Henrique Amorim – Mas não no seu caso. As suas histórias são de concreto, ficam para sempre.


Oscar Niemayer – É, enfim. Trabalhei, não posso me queixar. O primeiro trabalho que eu fiz em Pampulha foi tendo sucesso, eu trabalhei para JK naquela ocasião, eu me lembro que Pampulha foi o início de Brasília, não é? A mesma correria, a mesma angústia, a mesma preocupação com prazo, e tudo correu bem, Pampulha com a Igreja assim diferente, coberta de curvas, ele ficou satisfeito. Tudo isso eu acredito, deu ao JK um ânimo assim para tocar para Brasília. Eu me lembro que ele me procurou e disse, "Oscar, fizemos Pampulha, agora vamos fazer a nova capital". E começou essa aventura que durou alguns anos e que deu, pelo menos, ao povo brasileiro a sensação de um pouco de otimismo diante do futuro que agora a gente vê com um certo prazer. A gente sentindo que o Brasil está bem conduzido, que o presidente é operário e está, pela própria origem, ligado ao povo, que o Brasil está crescendo para ser um país importante, a América Latina está se unindo contra essa aventura do império do Bush.


Paulo Henrique Amorim – O senhor não gosta do Bush?


Oscar Niemayer – Eu acho que ele é um merda, sabe.


Paulo Henrique Amorim – (risos) é muito simples. Mas deixa eu voltar um pouquinho aos cem anos. Os cem anos, a gente pode enumerar uma série de defeitos dos cem anos, mas tem vantagens nos cem anos também, não tem?


Oscar Niemayer – O pessoal fica mais condescendente, tratando a gente melhor.


Paulo Henrique Amorim – Mais generoso... não é?


Oscar Niemayer - ...com pena. Cem anos dá pena não dá prazer. Eu ia passar os cem anos sem muita alegria. A vida passou, eu procurei ser correto, trabalhar, mas não estou contente, na verdade não traz nenhum prazer.


Paulo Henrique Amorim – Nada?


Oscar Niemayer – Não. Só se o sujeito pensar que é importante, e eu acho isso tão ridículo, se ele pensar que é importante ele está fora do mundo.


Paulo Henrique Amorim – Mas nem o Oscar Niemayer é importante?


Oscar Niemayer – A nossa política agora é um pouco diferente, é ligada à arquitetura, mas sempre procurando resolver o problema do jovem. Nós estamos pensando no Brasil, no sujeito que entra para a escola sem ler um livro e depois é formado, sai da escola como um especialista só falando da sua profissão e o mundo pede gente diferente, que se interesse, que converse, saiba alguma coisa. Nós, por exemplo, aqui no escritório nós temos um professor de filosofia há cinco anos. Ninguém quer ser um intelectual...


Paulo Henrique Amorim – O senhor estuda filosofia?


Oscar Niemayer – Há cinco anos. Mas ninguém tem esse interesse agora.


Paulo Henrique Amorim – Mas, qual é esse seu interesse por filosofia agora?


Oscar Niemayer – A gente quer se informar melhor sobre tudo, aprender outras coisas. O importante é a pessoa ser curiosa. Não é um interesse de um intelectual, é um interesse de um sujeito normal que sente a vida, que é solidário, que acha que o mundo pode ser melhor, que um dia o homem possa ter prazer em ajudar o outro, é isso que é a generosidade num certo sentido. E o ser - humano, é verdade, a perspectiva dele é muito pouco.


Paulo Henrique Amorim – É muito pouco?


Oscar Niemayer – A própria natureza está começando a evoluir, já falam que o sol pode crescer, pode queimar tudo, essas teorias todas, a gente tem que querer, ter vontade de participar, ter uma idéia também, para onde nós vamos... não é? De modo que o que eu acho importante é o jovem ler, se informar, ter uma base patriótica, saber que o Brasil é importante. Antigamente não era preciso falar muito em pátria não, mas hoje tem que falar. A América Latina está ameaçada, nós temos que nos unir, o que eu acho que é importante é ter uma visão geral do mundo.


Paulo Henrique Amorim – Você se considera um patriota?


Oscar Niemayer – Entre nós, geralmente os nossos irmãos militares, a gente traz a idéia da pátria no peito, porque a própria profissão obriga. Quando precisamos dessas autoridades, eles são indispensáveis. É lógico que eu penso o Brasil, penso o povo brasileiro, satisfeito, porque eu estou sentindo que o Brasil está caminhando melhor, vai ser um grande país. A juventude começa a compreender que a vida não é um passeio, que tem que se informar, o jovem tem que ler, participar da vida, se informar, não pode se transformar num especialista que só fala em arquitetura, que só fala em teoria, em medicina...


Paulo Henrique Amorim – O senhor não gosta de falar muito em arquitetura, não é?


Oscar Niemayer – Quando vêm estrangeiros aqui, repórteres estrangeiros, eles realmente querem que eu fale o que eu fiz, os projetos, me dá uma preguiça de falar. A Arquitetura é importante, é a minha profissão, passei a vida debruçado na prancheta. Mas o importante é a vida, fazer a vida mais justa, isso é o que é importante e eles ficam assim e logo para eles sentirem bem o meu ponto de vista eu digo: "vocês sabem, quando eu vejo os estudantes na rua protestando, acho que o trabalho deles é mais importante do que o meu".


Paulo Henrique Amorim – Você soube que foi feita uma enquete agora para localizar os cem maiores gênios vivos.


Oscar Niemayer – Eles se enganaram, eu não tenho que estar nisso não...


Paulo Henrique Amorim – E você está entre os dez maiores dos cem. Isso não é uma coisa que te dá alegria?


Oscar Niemayer – Não... quem é que julgou? Quem é que procedeu? Tem tanta gente mais importante.


Paulo Henrique Amorim – Por exemplo?


Oscar Niemayer – Ah... tem tanta gente... são tão importante. A vida é ingrata, é injusta. Eu acho que a gente tem é que... não devemos manter uma posição assim, de falar das coisas, mas por agir. Por exemplo, tem um colega meu aí, ele queria ser arquiteto, mas era muito humilde, ele não podia ser. Então eu estou pagando a escola dele, no fim do ano ele vai ser arquiteto. Mas ele tem um compromisso comigo, ele tem que ler. Então ele já sabe, tem que ler Machado de Assis, tem que ler Graciliano Ramos, tem que ter uma idéia da vida. É preciso, a leitura é indispensável. Eu me lembro que teve um período que eu já muito li muito o Simenon, escritor francês de contos policiais. O pessoal do escritório falava, "para quem ler isso, esse negócio não tem conteúdo nenhum". Mas, um dia eu li um livro do Sartre, onde ele dizia, "hoje li três livros de Simenon". Então, se Sartre leu três livros de Simenon, a leitura é necessária, qualquer leitura é necessária.


Paulo Henrique Amorim – Mas Oscar, por mais que você tenha resistência em falar de arquitetura, um grande amigo seu, que é meu amigo também, o Ítalo Campofiorito deu uma entrevista dizendo assim, "Que o Oscar, ele faz obras tão grandes que acabam se tornando a marca, a cara, a personalidade de uma cidade".


Oscar Niemayer – É um amigo que está falando, não é? Mas é bom, é verdade, eu procuro fazer uma arquitetura diferente. Acho que a arquitetura tem que criar espanto, criar surpresa, é feito a obra de arte, a obra de arte se caracteriza quando ela provoca emoção e surpresa. Então, a arquitetura, ter uma arquitetura diferente, é importante, é a prova da criação. De modo que eu trabalho nisso, eu tenho um projeto para fazer, eu estou nesse caminho, eu tiro metade dos apoios, a arquitetura se faz mais audaciosa, não é, com espaços mais generosos, aí eu posso atuar de uma forma diferente, o que ocorre sem nenhum preconceito antes. Um dia perguntaram ao André Malraux uma pergunta semelhante e ele disse, "eu tenho dentro de mim tudo o que eu amei na vida", isso às vezes me ocorre, de modo que a coisa é espontânea, eu acho que a arquitetura está na cabeça, eu posso, sentado aqui, pensar dois dias num projeto levantar e desenhar. Agora, o desenho é importante também porque surge uma idéia... mas a arquitetura não tem nada de especial. Hoje o concreto permite tudo, no período da renascença, por exemplo, sujeito queria fazer uma cúpula, não passava de quarenta metros de vão. Eu fiz agora o museu de Brasília, tem 80 metros de vão, eu podia ter feito de 150 metros de vão. O arquiteto hoje tem à disposição dele uma técnica fantástica. Ele pode usar como bem entender. Agora, alguns arquitetos procuram fazer alguma coisa mais simples, como se fosse estrutura metálica, outros, como eu, procuram uma forma diferente, a surpresa, e faz parte da arquitetura.


Paulo Henrique Amorim – Por que é que os brasileiros, por exemplo, não se dão conta de que um dos prédios mais lindos de Nova York é de sua autoria, o prédio da ONU?


Oscar Niemayer – Foi da minha autoria. Um dia houve um concurso e escolheram o meu projeto. Nesse projeto eu criava a Praça das Nações Unidas. Tinha um prédio alto no centro, uma grande Assembléia de um lado, outro prédio do outro, então era muito bonito. E foi por unanimidade que escolheram esse projeto. Mas depois, eu mesmo permiti mudar a posição da Assembléia e o projeto mudou, o projeto com a Assembléia grudada em um prédio alto, não é de boa arquitetura.


Paulo Henrique Amorim – Você próprio não gosta muito.


Oscar Niemayer – Eu me arrependo de ter aceitado mudar a posição da assembléia.


Paulo Henrique Amorim – Foi um pedido do Corbusier, não foi?


Oscar Niemayer – Eu era jovem e ele era um mestre e eu atendi, mas foi péssimo, o projeto original era muito melhor.


Paulo Henrique Amorim – A sua memória é perfeita, não é isso? Com cem anos a sua memória está ótima.


Oscar Niemayer – Para algumas coisas sim, para outras não. As coisas ruins eu procuro esquecer.


Paulo Henrique Amorim – Mas, uma vez você estava com um amigo, num restaurante aqui da Avenida Atlântica, o Lucas, e eu estava com a minha filha, que tinha acabado de chegar de Brasília, eu fui mostrar a ela a capital do Brasil. Eu disse para ela, "minha filha, quem está ali é o Oscar Niemayer", e ela, "Ah, aquele da catedral, do Palácio da Alvorada", eu digo, "pois é, vamos lá conhecê-lo?", e eu levei a minha filha para conhecê-lo. Você foi muito gentil, muito simpático e ela perguntou, "como veio à sua cabeça a idéia de fazer aquelas duas bolas do Congresso?". Aí você pegou uma laranja... lembra disso?


Oscar Niemayer – Não.


Paulo Henrique Amorim – Pegou uma laranja, cortou ao meio e disse, "assim ó".


Oscar Niemayer – Realmente, o projeto do Congresso é o que eu gosto mais. Fui um pouco corajoso fazer aquilo, aquilo deu mais trabalho do que parece, não era feito cortar uma laranja. Eu me lembro que tempos depois o engenheiro que calculou, o Joaquim Cardoso, me telefonou e disse, "Oscar, encontrei a tangente que vai permitir que a cúpula da Câmara pareça apenas posada." De modo que fazer uma forma assim, já conhecida, tem problemas de estrutura, enfim, não é fácil de fazer. Eu gosto, o espaço entre elas é bom, o espaço faz parte da arquitetura.


Paulo Henrique Amorim – Mas e aquelas curvas do Palácio da Alvorada, o mundo inteiro copia as suas curvas.


Oscar Niemayer – Você vê que nós estamos com a idéia do prazo na cabeça, tinha que correr. Mas isso não me levou, felizmente, a procurar a solução mais simples, repetida. Em cada caso eu queria uma solução nova. Então eu cheguei àquela solução, dos apoios em curva que eu vi publicado pelo mundo e sem mágoa nenhuma. Quando o sujeito copia uma coisa minha eu acho que ele é gentil, ele gostou daquilo. Há pouco tempo saiu nos Estados Unidos uma nota dizendo que um arquiteto lá tinha copiado um arco que eu fiz ali num projeto. Eu disse logo que não, que não estava zangado não, ele gostou do arco, ele foi gentil.


Paulo Henrique Amorim – É um elogio, o plágio é uma forma de elogio.


Oscar Niemayer – O difícil no mundo, é uma prática que eu faço e realmente é útil, é sempre procurar viver tranqüilo, aceitar as coisas, aceitar a burrice, até a burrice ativa que incomoda.


Paulo Henrique Amorim – A burrice ativa? E tem muito burro ativo, não é? Tem burros dinâmicos.


Oscar Niemayer – Pois é, é respeitar os amigos. Eu sou incapaz de criticar algum arquiteto. Eu acho que ele teve trabalho, procurou fazer, a solução que ele pensou é aquela. Mas o importante na arquitetura é o arquiteto fazer o que ele gosta e não o que os outros gostariam que ele fizesse, esse é o ponto de partida.


Paulo Henrique Amorim – O JK foi o homem público que você mais admira?


Oscar Niemeyer – Não, tem tantos homens públicos... Eu admiro ele, eu admiro a coragem dele, o espírito de empreendedor, de fazer Brasília. tem tanto brasileiro importante. Importante como ele. Por exemplo, uma pessoa que eu admiro muito é o Capanema, que eu lhe dei durante muito tempo.


Paulo Henrique Amorim – Gustavo Capanema, o ministro da Educação.


Oscar Niemeyer – Ministro da Educação, chamou Drummond, foi Capanema que me chamou para Brasília.


Paulo Henrique Amorim – E foi para fazer o prédio do MEC, o primeiro prédio do Ministério da Educação.


Oscar Niemeyer – Não, o prédio é do Corbusier, nós melhoramos. Agora, o trabalho que ele me chamou para fazer Brasília. O Juscelino apareceu e ele me indicou. Essa história mostra que as coisas surgem naturalmente. Eu trabalhava numa universidade e não gostei da universidade, pedi demissão, Capanema não aceitou a minha demissão e deixou para mim um bilhete. Eu fiquei um ano lá, ajudando, uma coisa e outra ligada a arte, com o Drummond, aquela turma do gabinete dele e ficamos muito amigos. Então, quando veio o Juscelino, ele me indicou. Quer dizer, se eu não tivesse brigado na universidade e saído e o Capanema me chamado para o gabinete, não aceitando a minha demissão, eu não tinha ficado amigo dele, e ele não me indicaria. Capanema foi fundamental na minha vida de arquiteto.


Paulo Henrique Amorim – Como está a encomenda que o Chávez fez, de fazer um Memorial para o Bolívar?


Oscar Niemeyer – Não, não tem encomenda. Ele esteve aqui, muito simpático, falou muito em Bolívar. Eu tinha idéia de um monumento e mandei para ele como presente. E admiro, é um sujeito patriota, ele quer melhorar o país, ele acha que um bom governo pode continuar mais tempo...


Paulo Henrique Amorim – Isso para você não é uma coisa grave?


Oscar Niemeyer – Não, acho que ele tem o direito, ele está no clima de revolução, ele tem que defender a revolução e lutar contra tudo. Me lembro, por exemplo, uma vez eu fiz uma mesquita em Argel. E o presidente da República, (Houari) Boumedienne, foi um grande general lá. Eu levei a mesquita para ele e eu me lembro que ele disse assim: "Mas essa é uma mesquita revolucionária". Eu disse: "A revolução não deve parar". Eu estava tão certo. A revolução não deve parar. A revolução tem que continuar brigando, senão ela acaba, se as forças contrárias fossem crescendo. De modo que a Revolução Cubana ainda existe. Qualquer revolução dessas – o Chávez também –, os inimigos da revolução estão lá. A revolução está em curso, não sumiu ainda. E quando sumir tem que continuar testando a continuidade.


Paulo Henrique Amorim – Você diria que hoje você é politicamente mais radical do que 50 anos atrás?


Oscar Niemeyer – Não. Eu desculpo muito as pessoas. Eu custo muito a ter raiva de uma pessoa. Acho que toda pessoa tem um lado bom. Eu sou incapaz de criticar o trabalho de um arquiteto, mesmo que eu não esteja de acordo. A gente tem que procurar o equilíbrio, isso é que faz bem inclusive para a saúde.


Paulo Henrique Amorim – Como é que está a saúde?


Oscar Niemeyer – Eu nunca tive doente.


Paulo Henrique Amorim – Nada?


Oscar Niemeyer – Nada.


Paulo Henrique Amorim – Como é que é a sua dieta?


Oscar Niemeyer – Vida normal, como de tudo.


Paulo Henrique Amorim – Come de tudo?


Oscar Niemeyer – Como muito pouco, não gosto de comer muito. Tomo meu vinho de tarde.


Paulo Henrique Amorim – Vinho tinto?


Oscar Niemeyer – É. Os amigos que batem papo, isso ajuda.


Paulo Henrique Amorim – Fuma?


Oscar Niemeyer – Fumo. Agora estou fumando mais.


Paulo Henrique Amorim – Mais?


Oscar Niemeyer – É, porque eu fico meio sozinho, aí sou obrigado a fumar.


Paulo Henrique Amorim – Mas o médico não reclama? O coração, essas coisas.


Oscar Niemeyer – O médico vem aqui de vez em quando, eu chamo ele para bater papo, para dizer que está tudo bem, me sinto à vontade.


Paulo Henrique Amorim – E fuma na frente dele?


Oscar Niemeyer – Ele diz que posso fumar.


Paulo Henrique Amorim – E qual é a sua rotina de trabalho?


Oscar Niemeyer – Eu chego aqui, tenho que atender a imprensa. Tem gente de fora, gente do Brasil, gente que tem vontade de me conhecer. Então, meus dias são ocupados. Às vezes tem um dia mais folgado e eu chamo os amigos e começamos a trabalhar. Aí trabalho o que for preciso.


Paulo Henrique Amorim – Noite a dentro, se for preciso?


Oscar Niemeyer – Não, não tenho trabalhado de noite.


Paulo Henrique Amorim – Mas nesse momento você faz o que, por exemplo?


Oscar Niemeyer – O último trabalho – estou com ele na prancheta – é um museu para a Espanha. É um museu que me agrada muito, que é uma praça grande e tem um auditório para mil pessoas e o museu do outro lado. Então, é feito um monumento para ser criado na Espanha. O museu é uma coisa nova, diferente e o auditório também, o teatro. De modo que interessa muito. Mas tem esse trabalho que eu estou fazendo para o governador de Brasília que é importante. Eu inventei uma cúpula que é uma placa solta no ar com cem metros por oitenta. Essa placa podia abrigar um campo de futebol.


Paulo Henrique Amorim – E isso vai ser o que?


Oscar Niemayer – Isso vai ser para as grandes festas populares. Embaixo dessa placa ele vai poder convocar de trinta a quarenta mil pessoas. De modo é um trabalho assim que me anima mais. E, além disso tem um circo e um auditório. Então, uma obra para Brasília é muito importante.


Paulo Henrique Amorim – É uma praça do povo.


Oscar Niemayer – Também estou fazendo para Minas um projeto que está dando trabalho. Eu quero substituir aqueles prédios antigos, como é que chamava aquilo? No lugar daquelas construções antigas vou fazer um novo centro administrativo.


Paulo Henrique Amorim – Ah, o novo centro administrativo do Governo de Minas, em Belo Horizonte. É você que vai fazer?


Oscar Niemayer – Já está entregue tudo...


Paulo Henrique Amorim – Já está andando? Já está entregue?


Oscar Niemayer – Então, com isso, adotei nesse caso uma arquitetura mais em altura, invés de fazer quarenta secretarias, ou trinta e tantas, eu fiz só duas.


Paulo Henrique Amorim – Duas?!


Oscar Niemayer – Dois prédios de duzentos metros com vinte andares. Então, com essa solução, o terreno pareceu que tinha crescido. Os planos ficaram mais generosos. É engraçado que o prédio do Palácio (do Governador), que eu projetei também, é direta. Então, é uma solução tão esclarecida, sob o ponto de vista da arquitetura, que eu rejeitei e nunca fiz isso, projetei uma ruazinha defronte para depois de construir o conjunto o pessoal passar e sentir que foi uma obra bem pensada. A arquitetura deve ser usada com coragem, assim, sem medo de espantar as pessoas.


Paulo Henrique Amorim – Você está construindo uma nova cidade em Belo Horizonte. Eu pergunto, olhando para trás, 50 anos para trás, você acha que Brasília deu certo?


Oscar Niemayer – Eu acho, Brasília deu certo, é isso que ele (JK) queria, levar o progresso para o interior e eu acho que ele levou. Tem problemas em Brasília, por exemplo, tem as cidades satélites que tem mais gente que em Brasília.


Paulo Henrique Amorim – Do que em Brasília propriamente dito.


Oscar Niemayer – Brasília é aquilo. Eu gosto mesmo é do Rio. Do Rio da praia, dos amigos, de olhar para o mar, de sentir que a natureza é fantástica.


Paulo Henrique Amorim – E São Paulo?


Oscar Niemayer – São Paulo é isso, as ruas eram estreitas, os prédios subiram, as ruas continuaram da mesma largura, ficou um prédio contra o outro. O único lugar do mundo que eu conheço que arquitetura e altura são tão bem aplicadas é na França, na Île-de-France. Île-de-France, os prédios grandes, mas os espaços horizontais acompanham os prédios também, são mais generosos, mostram essa relação de volume e espaço livre tão bem cuidada. Então é muito bonita, a Île-de-France. Agora, usar arquitetura e altura sem esse sentimento de compreensão dos espaços, como Nova York por exemplo, é uma merda.


Paulo Henrique Amorim – Mas São Paulo é Nova York multiplicada por dez.


Oscar Niemayer – Pois é, eu estou dizendo. Estou dizendo que São Paulo é ruim também porque é o mesmo espírito. Não há essa relação de volume e espaço livre que a boa arquitetura exige.


Paulo Henrique Amorim – Você conhece essa frase do Chico Buarque, "a música do Tom é uma casa desenhada pelo Niemayer".


Oscar Niemayer – Nós estamos fazendo uma revista de arquitetura, (como a que) tivemos uma há tempos atrás.


Paulo Henrique Amorim – A Modulo?


Oscar Niemayer – Agora é outra. O nome da revista é Nosso Caminho. A idéia que dá é o nosso caminho para frente. Então, nessa revista, a arquitetura tem uma terça parte, o resto artigos variados, filosofia, história, letras. Mas essa revista, nós já estamos pensando no meio da revista uma página com um retrato do Chico e um textozinho. É uma homenagem da revista, desse primeiro número para o Chico.


Paulo Henrique Amorim – E quem é que dirige a revista, é você?


Oscar Niemayer – Não, quem dirige é a minha mulher. Eu cuido assim das coisas de organização das páginas.


Paulo Henrique Amorim – Da paginação, a parte gráfica.


Oscar Niemayer – É.


Paulo Henrique Amorim – Que legal, quando sai essa revista?


Oscar Niemayer – Está pronta, estamos acertando os textos e tudo. É uma revista assim, aberta para o conhecimento. São artigos, tem artigos do Ferreira Gullar, tem artigo do...


Paulo Henrique Amorim – Do Gullar deve ser sobre artes plásticas.


Oscar Niemayer – Artes plásticas, tem artigo do Fiori.


Paulo Henrique Amorim – José Luiz Fiori.


Oscar Niemayer – São cinco artigos, os mais variados.


Paulo Henrique Amorim – E seu não tem nenhum?


Oscar Niemayer – Tem meu também.


Paulo Henrique Amorim – Sobre o que?


Oscar Niemayer – Eu estou querendo usar um artigo que eu falei sobre arquitetura também. Mas sem fugir do assunto da vida.


Paulo Henrique Amorim – Mas você roda, roda, roda e volta para a arquitetura.


Oscar Niemeyer – Se você concordar que nós fazemos arquitetura para o poder, a arquitetura não chega aos barracos. Então, a arquitetura que deve crescer em função da técnica e da sociedade, está faltando essa parte. Ela evoluiu, a arquitetura hoje é mais rica, imensamente mais rica, como solução técnica do que antigamente. Mas continua voltada para os que têm direitos à arquitetura, às classes mais favorecidas. O pobre está na favela olhando os palácios.


Paulo Henrique Amorim – Você diria que seria, em resumo, o seguinte: eis o que lhes devia dizer sobre a minha arquitetura, feita com coragem e idealismo, mas consciente de que o importante é a vida. Os amigos e esse mundo injusto que precisamos melhorar.


Oscar Niemeyer – Exatamente.


Paulo Henrique Amorim – Mas isso é seu.


Oscar Niemeyer – É, é o que eu penso.

10 dezembro 2007

O ranking da corrupção eleitoral

por Marco Aurélio Weissheimer

O dossiê "Políticos cassados por corrupção eleitoral", produzido pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, apontou o DEM, o PMDB e o PSDB liderando o ranking de partidos que mais tiveram políticos cassados desde o ano de 2000.
Neste período, a Justiça Eleitoral brasileira cassou o mandato de 623 políticos.
O DEM lidera o ranking com 69 cassações (20,4%), sendo seguido pelo PMDB com 66 (19,5%) e pelo PSDB com 58 (17,1%). Em quarto, aparece o PP com 26 casos (7,7%), seguido pelo PTB com 24 (7,1%) e pelo PDT com 23 (6,8%). O PT aparece em nono no ranking das cassações com dez casos (2,9%).
A pesquisa foi feita com base nas informações disponíveis nos sites dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O levantamento não inclui políticos que perderam cargos em virtude de condenações criminais.


A pesquisa, divulgada no dia 4 de outubro, foi realizada pelo juiz Márlon Reis, que desenvolve atualmente tese de doutorado sobre o tema na Universidade de Zaragoza, Espanha.
Ele também é presidente da Associação Brasileira de Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais (Abramppe ) e integrante do Comitê Nacional do MCCE. Na divisão por estados, Minas Gerais lidera o ranking com 71 cassações, sendo seguido pelo Rio Grande do Norte, com 60 casos, São Paulo, com 55, e Bahia, com 54.
O Rio Grande do Sul aparece em quinto lugar, com 49 casos.
Entre os cinco estados com mais políticos cassados desde 2000, três são das regiões Sul e Sudeste, supostamente as mais politizadas do país.
Segundo dados da Corregedoria Geral Eleitoral, ainda tramitam 1,1 mil processos relativos às eleições de 2006. Todos eles podem levar à cassação de mandatos

30 novembro 2007

O rei e o índio

Luiz Pilla Vares
Porto Alegre - 22/11/07

Nunca um bate-boca rendeu tanto noticiário como este entre o rei Juan
Carlos, da Espanha, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Mas é evidente que, por trás dessa repercussão, está a tentativa deliberada
de desqualificar o presidente Chávez que chamou o ex-primeiro-ministro
espanhol, José María Aznar, de fascista.
Chávez não estava longe da verdade, já que Aznar é ligado a uma das organizações mais conservadoras da Europa, a Opus Dei.
O despropositado no fato do bate-boca foi a audácia do rei espanhol em querer mandar o líder venezuelano calar a boca, como se fosse um Carlos V ou um Filipe II e como se a velha monarquia espanhola ainda fosse dona da América
Latina.
O rei parece não se dar conta que séculos transcorreram e a
América Latina hoje é republicana, inteiramente republicana, ainda
mais agora quando os povos indígenas, quase eliminados fisicamente
pelo colonialismo espanhol, retomam o seu lugar na história,
sem canhões, no voto e nos movimentos sociais.

O mestiço Chávez, muito mais para índio do que para branco, é fruto dessa revanche.
É verdade que ele não dá muita bola para a linguagem diplomática e não tem papas na língua. Se é para chamar o presidente Bush de diabo, chama. Se é para chamar Aznar de fascista, chama. E não se achincalha diante do rei, aliás, um rei que
recebeu a coroa do ditador Francisco Franco.
Felizmente, há muitos brasileiros que não se deslumbram com a arrogância e a prepotência de Juan Carlos.
Mauro Santayna, do Jornal do Brasil, é um deles: "O presidente Hugo Chávez é descuidado e franco no que fala. Usa em sua retórica antiimperialista, metáforas quase divertidas, como chamar Bush de diabo. Mas não exagerou ao qualificar o ex-primeiro-ministro espanhol José María Aznar de fascista. Aznar, produto típico da Opus Dei, que se reorganiza com novo alento na Espanha, sempre tratou a
América Latina com desdém".

Em compensação, um prestigiado colunista aqui mesmo de Porto Alegre saiu em defesa do rei e qualificou Chávez de "bufão". O cronista escreve bem quando trata de gostosos textos sobre o passado da capital gaúcha e de nossa imprensa. Mas foi um desastre quando se meteu no bate-boca do rei com Chávez.
E, ainda pior, no dia seguinte, para glorificar o rei, deu o exemplo de Alcazar, durante a guerra civil espanhola nos anos 30. Afirmou que Alcazar era a Espanha. Mas não disse que os defensores de Alcazar eram fascistas, sequazes de
Franco, que venceu a guerra contra os republicanos, graças ao auxílio
de Hitler e Mussolini.
Nem lembrou também que a Espanha foi também Guernica. Este rei arrogante que trata as lideranças da América como se fosse ainda dono de nosso espaço teve de encontrar pela frente a altivez de dois latino americanos: Chávez da Venezuela, que ousou desafiar abertamente o império norte-americano e Ortega, sandinista
histórico da Nicarágua.

26 novembro 2007

Um discurso para pensar.

A conferência dos chefes de Estado da União Européia, Mercosul e Caribe, em maio de 2002, em Madri, viveu momento surpreendente: os chefes de estado europeus ouviram perplexos e calados um discurso irônico, cáustico e de exatidão histórica que lhes fez Guaicaípuro Cuatemoc, embaixador mexicano de descendência indígena.

Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para
encontrar os que a 'descobriram' só há 500 anos. O irmão europeu da aduana
me pediu um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me
descobriram. O irmão financista europeu me pede o pagamento - ao meu país -
com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me
vendesse. Outro irmão europeu me explica que toda dívida se paga com juros,
mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem
pedir-lhes consentimento.
Eu também posso reclamar pagamento de juros.
Consta no 'Arquivo da Cia. das Índias Ocidentais' que, somente entre os anos
1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16
milhões de quilos de prata provenientes da América.
Teria sido isso um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos
cristãos faltaram ao sétimo mandamento! Teria sido espoliação? Guarda-me
Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue
do irmão. Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores,
como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a
arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à inundação
de metais preciosos tirados das Américas.
Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o
primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao
desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de
crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas
indenização por perdas e danos. Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.
Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano
MARSHALL MONTEZUMA', para garantir a reconstrução da Europa arruinada por
suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra, da
poligamia, e de outras conquistas da civilização.
Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: Os
irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos produtivo
desses fundos?
Não. No aspecto estratégico, dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em navios
invencíveis, em terceiros reichs e várias formas de extermínio mútuo. No
aspecto financeiro, foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos,
tanto de amortizar o capital e seus juros quanto independerem das rendas
líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê
todo o Terceiro Mundo.

Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma
economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para
seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente,
temos demorado todos estes séculos em cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos
que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e
sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus
cobram dos povos do Terceiro Mundo.
Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um
módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, com 200
anos de graça. Sobre esta base e aplicando a fórmula européia de juros
compostos, informamos aos descobridores que eles nos devem 185 mil quilos
de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas as cifras elevadas à potência
de 300, isso quer dizer um número para cuja expressão total será necessário
expandir o planeta Terra.
Muito peso em ouro e prata... quanto pesariam se calculados em sangue?
Admitir que a Europa, em meio milênio, não conseguiu gerar riquezas
suficientes para esses módicos juros, seria como admitir seu absoluto
fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos
capitalistas.
Tais questões metafísicas, desde já, não inquietam a nós, índios da América.
Porém, exigimos assinatura de uma carta de intenções que enquadre os povos
devedores do Velho Continente e que os obriguem a cumpri-la, sob
pena de uma privatização ou conversão da Europa, de forma que lhes permitam
entregar suas terras, como primeira prestação de dívida histórica...'

Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da Comunidade
Européia, o Cacique Guaicaípuro Guatemoc não sabia que estava expondo uma
tese de Direito Internacional para determinar a Verdadeira Dívida Externa.
Agora resta que algum Governo Latino-Americano tenha a dignidade e coragem
suficiente para impor seus direitos perante os Tribunais Internacionais.
Os europeus teriam que pagar por toda a espoliação que aplicaram aos povos
que aqui habitavam, com juros civilizados.

06 novembro 2007

Quando as alianças explodem, até novidades acontecem e chegam ao querido público leitor

Terça, 6 de novembro

Um escândalo inimaginável. Pelo menos para mim.

José Luiz Prévidi

Algo como levar uma porrada na cara logo no início da manhã.
Há mais de 20 anos conheço Carlos Ubiratan dos Santos, o Bira, que durante o Governo Rigotto foi presidente do Detran-RS. Ocupou o cargo porque, além de competente, é “unha e carne” de José Otávio Germano, então secretário da Segurança, que controlava o órgão. Hoje, estava na direção administrativa do Trensurb, indicado pelo PP do Germano.
E a notícia que o Bira estava em cana, na Polícia Federal.
Com ele, o atual presidente do Detran, o procurador do Estado Flávio Vaz Netto, também amigo do Zé Otávio. Fraude em licitações, sacanagem das grossas. Prejuízo ao RS de cerca de 40 milhões de reais.
Também está em cana o ex-diretor-geral da Assembléia gaúcha, Antônio Maciel, envolvido na mutreta. Maciel foi dirigente do Legislativo durante anos, figura muito conceituada, indicado por presidentes de vários partidos. É dirigente estadual do PP.
Algumas correções.
As primeiras notícias davam conta de que o Detran contratava a Fatec – Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia – da Universidade Federal de Santa Maria sem licitação. É a responsável pela avaliação teórica e prática para habilitação de condutores de veículos e usava a estrutura física, além dos servidores da universidade.
Em parte informação correta, mas não tem nada a ver oficialmente com a UFSM. Apenas locava salas e contratava professores.
Consta que a Fundação faturava por mês algo em torno de dois milhões de reais. É comandada por Lair Ferst, figura histórica do atual PP (entrou para a política pelas mãos de José Deni Coutinho, presidente da Arena Jovem), que notabilizou-se por ser casado por Deise Nunes, a Miss Brasil. Ferst trabalhou com Nelson Marchezan, o pai, e foi coordenador da bancada do PSDB na Assembléia.
É bom lembrar que o deputado federal Enio Bacci, indicado pelo PDT para a Secretaria da Segurança no início do Governo de dona Yeda, chegou a esboçar denúncias de irregularidades no Detran. Foi contestado e inclusive o Detran foi tirado da estrutura da Segurança passando para a Secretaria da Fazenda.
Bacci não durou na Segurança. Tentou mexer no abelheiro e chegou a cancelar um contrato com uma empresa privada de segurança para “cuidar” do prédio da própria Secretaria de Segurança. Era um contrato milionário. Inclusive os guardas ganhavam muito mais do que um policial do RS.
Bacci não podia durar, mesmo.
Sei não, mas essa Operação Rodin da Polícia Federal vai dar muito pano pra manga. E se for séria, como espero que seja, muito peixe grande vai morrer pela boca. Se justifica o Rodin: a mutreta de Santa Maria tem o codinome de “Pensante”.
Escrevo antes que o superintendente da Polícia Federal se pronuncie sobre a Operação. Por isso, durante a manhã muita informação desencontrada. Por exemplo, a Fundação teria colaborado com uma campanha em 2006 com, pelo menos, 600 mil reais.
Espero que o deputado federal José Otávio Germano se manifeste sobre a prisão de seus fraternos e fiéis amigos.
Como dona Yeda demonstre mais uma vez a sua indignação.
A propósito: José Francisco Mallmann não sabia de nada?

Amanhã volto ao assunto.

05 novembro 2007

Lições novas

Aquele lugar comum de generalizar os políticos não se aplicou na mal faladora imprensa marrom.
Pensei que agora todos os produtores de leite – salvo as vacas, é claro – seriam criminosos. Nada, nada mesmo, agora são alguns empresários que são criminosos. Fossem eles políticos, todos, absolutamente todos estariam difamados, acusados, condenados e crucificados em tempo recorde pela imprensa, perdão, pelo Ministério da Imprensa (substituto do Ministério da Justiça).
Tenho muito que aprender: a última é que quando se trata de empresários são alguns ruins que merecem castigo, se forem políticos TODOS SÃO INDÍGNOS.
Ainda bem que a imprensa existe para ensinar lições novas.

Humor Cáustico é soda!



Texto de Juli Bauer


É sabido que o Brasil tem mais farmácia que padaria por metro quadrado tirando a raiz quadrada ou aplicando a fórmula de Báskara, que ainda não sei pra que se usa, embora sirva pra abrir os miolos e exercitar o pensamento alhures da cachola minha.

É muito corrente a voz atleta que vai de canto em canto das bocas todas de que a verdadeira droga tá no ar e pira mais que qualquer outra, e trata-se do simples e puro oxigênio, cada vez mais raro na rala atmosfera, embora inspirando poucos e musas piradas tontas de tanta acidez no palavreado.


Também corre feito cadeirante em parapânico que balas perdidas até matam alguns ali e outros acolá. Surdos me disseram que em libras é mais caro fazer balir a dolly que dizer em dólar que Balli não é aqui, pois aqui é mais que Haiti, ai de mim, coitadinha, que fiquei numa rapidinha atrás da moita, que vinha o guarda.



Tudo isso para tentar chegar próximo do riso que nos faz o maltratado povo ser pelos donos de nós, os verdadeiros donos de tudo, os cientistas loucos e os loucos sem ciência ou consciência, loucos do mal, funestos professores aloprados, às avessas que fazem a pesquisa, pra dar o que de beber ao povo o leite sem sustânciada morte lenta, embora branquinha, que até nome de vaca é.




Merda envasada seria melhor que a cáustica receita oxigenada em água suja, porque natural, seja mole ou dura.
Eu quero uma vaquinha de leite pra mim e meus curumins.

30 outubro 2007

CARTA AOS COMPANHEIROS E COMPANHEIRAS DE LUTA


Por Dannyel Lopes de Assis

A tradição de esquerda preconiza que toda decisão política que interfira nos caminhos percorridos pela militância, individual ou coletiva, seja registrada como forma de fomentar o debate e delimitar os parâmetros da avaliação futura. Neste caso, minha decisão de filiar-me ao Partido dos Trabalhadores merece o registro dos motivos.


Com certeza minha decisão surpreenderá pessoas próximas a mim, mas desde já alerto: enganam-se àqueles que acreditam ser esta uma decisão irrefletida e casuística. Meu relacionamento com o Partido dos Trabalhadores, em especial com os companheiros do diretório de Maringá, dá-se a pelo menos cinco anos. Neste período, marcado por um forte questionamento de minhas posições, foi ficando cada vez mais evidente as identidades (e diferenças) de minhas convicções para com a dos companheiros e companheiras do PT quanto a método e estratégia. Hoje, após esse processo muitas vezes doloroso, posso afirmar que existem mais identidades do que diferenças frente as posições do partido. Logo a decisão que anuncio não é nenhuma brusca ruptura, mas uma consumação.

MINHA HISTÓRIA

Comecei minha vida política no Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU no ano de 1995 e permaneci até o ano de 2001 enquanto militante. Atuei no setor de juventude, primeiramente, ajudando a organizar o grêmio estudantil do Colégio Juscelino Kubitschek de Oliveira e, posteriormente, no DCE-UEM.


Construí neste período minha opção pela classe trabalhadora; minha confiança na infinita capacidade do ser humano em superar suas limitações; a convicção na necessidade da construção de um partido classista, democrático e de massas; que seja um instrumento de transformação social, capaz de organizar os oprimidos contra seus opressores a fim de construir uma sociedade mais justa e igualitária, em que homens e mulheres alcancem a mais plena liberdade, em todos os sentidos que este termo possa significar.


Durante a execução das atividades do PSTU conheci pessoas maravilhosas que muito contribuíram em meu caráter. Sem sombra de dúvida, ter conhecido minha companheira, Francieli Bonato, foi a mais grata contribuição. No entanto, não poderia deixar de citar a influência de Sergio e Edmilson quanto à disciplina e construção partidária; Diego e Inês quanto formação teórica e as deliciosas discussões sobre os escritos de Marx, Lênin e Trotski; assim como Laura e Rosangela quanto a difícil relação indivíduo e organização partidária.


Através do PSTU conheci companheiros valorosos que deram, neste período, significativa contribuição para o movimento estudantil de Maringá, e do Paraná, companheiros como Marcela, Rogério, Ana, Pierre, Junior, Diego, Fernando, Rodrigo, Luciana, Fabiana, Jaqueline, Marcelo, Ottacilio, Cleber, Cleiton e Bianco. Ao lado deles tive experiências que sobrepujaram em grandeza meus anos de academia. Vencemos as eleições do DCE de 1999/2000 e nos reelegemos em 2000/2001, colocando para fora uma corja de gangsteres que controlavam o movimento estudantil da UEM. Participamos decisivamente na construção das greves nas universidades estaduais do Paraná, nos anos de 2000 e 2001/02, onde pude verificar a viabilidade da ação direta por parte dos trabalhadores na ocupação da reitoria, no cancelamento do vestibular e na ocupação da radio universitária. Auxiliamos na reconstrução sindical do Sintemmar. Lutamos bravamente contra a privatização da Copel, chegando a ocupar a Assembléia Legislativa do Paraná, impedindo temporariamente a vergonhosa votação que autorizaria o executivo a vender o patrimônio do Estado. Sofremos juntos com o acidente do microônibus da UEM, sobre o rio Ivaí, ao qual levou a morte nosso querido “Cantagalo”. Marchamos justo sobre Brasília na famigerada “Marcha dos 100 mil”.


Enfim, tenho um apreço inestimável por este período, considero-o um patrimônio de minha vida ao qual credito minha formação enquanto militante político e enquanto pessoa.

PORQUE SAIR?

Apesar da história que tenho no PSTU, ao qual me orgulho sobremaneira, minha saída vem sendo refletida a algum tempo, objetivamente desde minha experiência no governo do saudoso José Cláudio. Atuar no governo municipal permitiu-me identificar as contradições de classe inerentes ao Estado, as relações de poder e hegemonia, as vicissitudes existentes na relação entre os poderes, mas principalmente permitiu-me identificar uma importante contradição na prática política do PSTU, qual seja, a negação da possibilidade de obtermos avanços importantes para os trabalhadores dentro dos marcos institucionais do capitalismo.


Grosso modo, a minha militância no PSTU orientou-se principalmente por alguns princípios: o centralismo democrático, como forma de organização partidária; o programa de transição e a frente classista de esquerda, como pressuposto tático para a atuação política e sindical, e por fim, a revolução (socialista) permanente, como marco estratégico. O intuito final é transformar o partido em uma organização de massas que possa incidir sobre os rumos do movimento social. A combinação desses pressupostos leva o militante a constantemente buscar a mobilização das massas para a ação direta. Tendo o partido a tarefa de encontrar palavras de ordem que permitam mobilizar os trabalhadores a partir das contradições da realidade cotidiana.


Observei que esse processo tornara-se circular, a cada nova palavra de ordem construída faz-se necessário outra, levando a que muitas análises tornassem-se simplistas e formatadas dentro de um modelo pré-concebido de crítica. Particularmente, isso me incomodou quando do início do governo Lula as críticas oriundas do partido eram por demais duras ao um governo recém empossado! Com o tempo, minhas diferenças com o partido foram ficando mais nítidas principalmente a partir das críticas feitas por este ao Programa Fome Zero, ao Bolsa Família, ao PROUNI, aos argumentos para a ruptura com a CUT e UNE, e, por fim, no comportamento assumido no processo eleitoral de 2006, nem tanto pelo PSTU, mas pela frente classista formada juntamente com o PSOL e PCB, ao qual, na minha avaliação, assumiu uma postura, no mínimo, infantil frente à Lula, concentrando-lhe todos os ataques e arrefecendo a crítica ao inimigo comum expresso na candidatura Alckmin. Uma crítica moralista ao PT, muito bem utilizada pela mídia, em que me lembrou muito o debate entre Bakunin e Marx sobre a atuação parlamentar dos partidos da 1ª Internacional. Definitivamente a crise de 2005 e as eleições de 2006 foram marcos importantes na minha decisão, pois não encontrava mais ressonância entre minhas opiniões e as posições do PSTU.


Considero que a base dessa contradição está no método de como o PSTU opera a tríade centralismo democrático – programa de transição – revolução permanente dentro de uma concepção ortodoxa de militante/partido, classe trabalhadora, frente classista e revolução socialista. Não querendo exaurir este tema, (que é o debate deste século para a esquerda), mas a ortodoxia do partido leva a uma lógica dicotômica em que somente com a ruptura do sistema capitalista, pelos trabalhadores, poder-se-ia ter avanços sociais consistentes. Qualquer avanço fora desses marcos seria fugaz. Há uma desconsideração, de importantes avanços obtidos dentro dos marcos da institucionalidade tais como o próprio Plano Real! Não admitir concretamente a possibilidade de avanços, sem necessariamente por meio da ruptura, leva o partido a se distanciar dos trabalhadores e explica, em parte, o fato de em 10 anos o PSTU não conseguir ampliar seus quadros dirigentes e não conseguir ter bom desempenho eleitoral.

PORQUE ENTRAR?

Como disse anteriormente minha decisão de ingressar no PT se consolidou no biênio 2005/2006. Na época, muitos companheiros, inclusive do PT, avaliavam que era tático impor uma derrota no 1º turno ao grupo hegemônico do governo, com o intuito de mudar os rumos e aprofundar avanços para a classe trabalhadora. Concordei com o princípio da tática, mas rapidamente percebi que seria extremamente arriscado: a reorganização dos setores mais reacionários do país junto à candidatura Alckmin, auxiliados por uma imprensa tendenciosa, poderia por em risco todos os avanços obtidos até aquele momento.


Além disso, pareceu-me bastante claro que a campanha de Heloisa Helena não visava à construção de uma alternativa ao PT, um novo partido com características de massas que recuperasse o melhor da tradição de esquerda construída pela classe trabalhadora brasileira, ainda muito expressa no PT, mas antes, tendia a ser uma campanha de diferenciação tendo como um dos objetivos principais a manutenção política de algumas personalidades públicas nacionais. Sinceramente fiquei extremamente decepcionado com a concepção do PSOL. Sempre tive a avaliação de que só valeria a pena sair do PT, no meu caso do PSTU, caso fosse possível fundir as organizações não petistas em uma única grande organização. Uma organização que se tornasse símbolo e referência aos trabalhadores, expondo métodos e concepções políticas diferentes sobre a estratégia comum de construir o socialismo.


Estava, portanto, numa situação em que não me identificava com o PSTU, nem cofiava no formato de construção do PSOL, meus olhos voltaram-se então para o PT. Este foi um momento difícil, estava na memória recente a crise de 2005, do “mensalão”, do caso “Waldomiro Diniz”, do dinheiro na cueca e de toda odisséia “hollywodiana” que marcou a 2ª metade do governo Lula. No entanto, percebi que toda a crítica ao PT, inclusive a feita pelos companheiros que construíram o PSOL, fundamentava-se basicamente na análise do comportamento individual das lideranças do PT. Nos erros de conduta desses dirigentes, mas não tinham uma crítica de fundo sobre o processo ao qual o Partido dos Trabalhadores passava. Uma crítica pautada pelos humores dos editoriais da grande imprensa.


Iniciei minha reflexão sobre aquela crise com a proposta de não cair na armadilha moralista do bem contra o mal, buscando entender toda aquela efervescência como um processo único. Compartilho da avaliação de muitos que parte da crise foi um efeito midiático. Produzido pelos meios de comunicação para desgastar o governo e o PT. Objetivamente, os ataques orquestrados pela mídia não tinham o intuito apenas de desgastar o governo Lula, mas antes de desmoralizar o PT enquanto organização. Caso obtivesse sucesso em sua empreita, a burguesia brasileira não teria apenas acabado com o governo Lula, mas com um importante marco da classe trabalhadora.


Contudo essa explicação não é completa. Cabe levar em conta o processo político brasileiro, a relação incestuosa entre o Executivo, Legislativo e Judiciário, em que a formação de maiorias no parlamento se dá, muitas vezes, a partir do atendimento de favores privados. Esse viés clientelista de nossa política é muito forte e historicamente construído, no entanto deve ser relativizado. Democracias mais maduras, como a estadunidense, institucionalizaram a figura do “mensalão” na forma de atuação dos lobistas e dos fundos de campanha. Para tanto basta ver como atuam as indústrias armamentista, do tabaco, da bebida, nos EUA na defesa de seus interesses junto aos “congressistas americanos”, financiando suas campanhas com generosas contribuições aos seus fundos em troca de contratos não menos generosos.


Neste sentido, minha conclusão fundamental foi: o PT foi julgado por jogar o jogo, o jogo da institucionalidade. Não estou eximindo o PT de uma avaliação criteriosa de seus erros, nem inocentando condutas individuais duvidosas. Nem tão pouco defendo a prática do realpolitik na ação institucional de um partido operário. Apenas estou contextualizando a atuação do PT, evitando uma crítica moralista e hipócrita cujo único objetivo é responsabilizar o partido por uma crise estrutural da política brasileira. Posso dizer que este processo de entendimento da crise me fez sentir vontade de defendê-lo dentro de suas fileiras, ironicamente, enquanto muitos companheiros faziam o movimento de saída do PT e iniciava meu processo de entrada: definitivamente foi um processo de amadurecimento.

Avaliando os motivos que me levaram a tomar a decisão final de ingressar no PT, considerei principalmente o fato deste ainda ser um instrumento para a melhoria da condição de vida da classe trabalhadora. Essa concepção está referendada pelos trabalhadores nas eleições que, mesmo com uma campanha de desmoralização nunca vista, Lula venceu Alckmin. Caso ocorresse o contrário, não seria apenas Lula que teria sido derrotado, mas toda a classe trabalhadora. Logo o PT representa um elemento civilizatório de nosso capitalismo desigual e dependente. Um partido de massas que apesar de suas contradições concentra os melhores quadros políticos e intelectuais de nossa sociedade. Atualmente, não é possível pensar a (infante) democracia brasileira sem pensar no Partido dos Trabalhadores e sua relevante contribuição tanto para a democratização do país, quanto para a democratização da América Latina. Um partido que agora tenho orgulho de dizer que faço parte e, talvez, o mais importante patrimônio construído pela classe trabalhadora brasileira desde a consolidação do capitalismo em fins do século XIX.

QUAIS AS PERSPECTIVAS?

Ao ingressar no PT assumo a responsabilidade de buscar construí-lo como partido de massas, trazendo para suas fileiras os principais quadros dos movimentos sociais. Essa responsabilidade perpassa a buscar entender as contradições que hoje aflige o partido, seus dilemas, agindo sempre no intuito de mantê-lo na direção do referencial estratégico que é a construção do socialismo. Compreendo este marco estratégico como sendo a luta contínua pelo fim imediato da pobreza absoluta, a consolidação da mais ampla democracia popular no Brasil, a defesa pela autodeterminação dos povos, a contínua politização dos trabalhadores com a organização do partido em todas as camadas populares, a reorganização da militância e o combate à burocratização. Hoje, tenho dúvidas quanto a capacidade de efetivação da revolução socialista clássica nos moldes soviéticos, mas não tenho dúvidas sobre a possibilidade da revolução social, é preciso que partido esteja preparado para este momento definindo melhor seus parâmetros.

A princípio considero que a construção dessa revolução social passa necessariamente pela melhoria da condição de vida de nosso povo, com redução das desigualdades sociais. Passa por uma intransigente defesa da democracia com participação popular como instrumento de transição para a construção da democracia direta. Passa pela construção da organização dos trabalhadores assim como pela construção de governos populares que garantam a redistribuição de renda e redução da miséria (não se discute política com famintos, com famintos se mata a fome). Passa, enfim, pela construção de uma organização partidária sólida com clareza de seus princípios e estratégias. Nesta perspectiva, companheiros e companheiras petistas, tem-se muito trabalho por fazer.

28 outubro 2007

A arte revela a face conhecida para ser desvelada



Viu o filme Tropa de Elite? (1)

Um filme pode ser a reprodução do real, simplesmente. É ai que entra a genialidade – mostrar aquilo que um modelo de sociedade avestruz não quer ver e assumir.

Sei, o BOPE é a violência do Estado em seu estado absoluto. Sei, mas o que acontece no Rio não é o resultado da ausência do Estado via saúde, escola, serviços e até segurança? O Estado esteve presente por mais de 500 anos neste país para proteger os proprietários de algo. Isto resultou em quê? Em milhões sem nada ou quase nada. Sobreviver eles precisavam.

A ironia é que os mesmos que gozavam da segurança do Estado – A elite - passaram a consumir a matéria-prima que passou a sustentar a miséria que o Estado não retirou da miséria, ou o Estado não é pra isto? (3)

Assim é a Guerra: o resultado inevitável da acumulação de uns contra os outros. Quando o resultado esta posto e atrapalhando aí o jeito é enfrentar a guerra do jeito que ela é: violenta.
Lamento, mas Freira na Zona não converterá a totalidade.

Sei. Dirão muitos que a forma de reverter tudo isto é educar e viabilizar social e economicamente. Esta é a boa notícia, já estamos fazendo isto com mais de 15% da população que estava abaixo da linha da miséria saíram, só em 2006.

E o lado ruim? É que 500 anos de destruição de um povo não se muda em 8 anos. Enquanto isso o BOPE é uma outra frente para minimizar a ausência do Estado ou o Estado que se acostumou a lucrar com os dois lados – a corrupção.

Fico pensando na Lei da oferta e procura – tem produção de droga porque há consumo de droga. Lei bem antiga que inclusive foi aprimorada pelos Ingleses. Dizia Marx:
“Quaisquer que sejam as causas que têm determinado as revoltas crônicas destes últimos dez anos na China, revoltas que hoje estão confluindo para uma gigantesca convulsão, qualquer que seja a forma que esta venha a revestir - religiosa, dinástica ou nacional - ninguém duvida que o seu motor são os canhões ingleses, que impõem à China a droga suporífera chamada ópio”. Artigo publicado no New York Daily Tribune de 14 de Julho de 1853. (Ver 2)

Exatamente, quando o mundo capitalista não conseguia equilibrar a balança comercial com a China, a Inglaterra procurou popularizar uma droga usada em cerimônias religiosas na China onde apenas o sacerdote usava o ópio (como os Padres com o Vinho) e passou a realizar sua comercialização plantando em países vizinhos. A assim obtiveram lucro já que para a China no século XVI e XVII, não tinha nenhum interesse econômico nos bárbaros europeus.
Conclusões antigas: os ingleses são os primeiros grandes traficantes; quando não há mercado por não haver necessidade do consumo de algo, se cria mercado e necessidade; o que importa é o consumo ainda que isto represente a destruição de pessoas.


Novas conclusões: quando o Estado se ausenta da função melhoria das condições da população e de enfrentamento dos desvios e atalhos da burocracia o crime organizado assume a dianteira seja dentro ou fora do aparelho de Estado.
Então, enquanto não houver solução pacífica imediata e de curto prazo – as que conhecemos são de longo prazo – o BOPE será uma realidade tão dura e cruel quanto o crime sustentado pela própria sociedade.

(1) “Viu o filme Tropa de Elite? A repercussão sobre ele está violenta, tanto quanto o filme. Mas o que me deixa triste, é ver que invariavelmente as pessoas correm para tomar posições mais fáceis. "A Culpa é do Traficante", "A culpa é do Playboy consumidor", "A culpa é do sistema". Todos têm sua parcela de responsabilidade e interesse. Tem gente usando as teorias de comunicação massiva da escola de Frankfurt, pra justificar se o filme é o não é fascista. Olha pra que caminhos essa gente vai? Ao invés de pensar na construção de uma obra de ficção que chama o debate para o real...” Autor conhecido e querido!



(2) “Em meados do século XIX a Inglaterra era a potência européia mais desenvolvida. Por isso exigia, para a colocação de seus produtos, mercados cada vez maiores. A China e a Índia, extremamente populosas, exerciam forte atração sobre os mercadores ingleses. Mas enquanto a Índia comerciava abertamente, a China não demonstrava interesse algum pelas mercadorias européias. Os produtos chineses, tais como a seda, o chá e a porcelana alcançavam bons preços na Europa, mas os produtos europeus não conseguiam entrar no mercado chinês. Esse comércio era pouco rendoso para a Inglaterra. Apenas um produto interessava particularmente aos chineses: o ópio, narcótico extraído da papoula, que produz efeito adormecedor sobre cérebro. Os ingleses cultivavam o ópio na Índia e vendia-o em grandes quantidades na China. Entre 1811 e 1821, o volume anual de importação de ópio na China girava em torno de 4.500 pacotes de 15 quilos cada um. Esta quantidade quadruplicou até 1835 e, quatro anos mais tarde, chegou a ponto de o país importar 450 toneladas, ou seja, um grama para cada um dos 450 milhões de habitantes da China na época”.



(3) Uma pesquisa divulgada na tarde desta terça-feira pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que 62% dos consumidores declarados de drogas no País pertencem à classe A.Este segmento representa apenas 5,8% da população brasileira. O estudo mostra ainda que 85% dos usuários são brancos, grupo que compõe 53% da população total no Brasil. Os dados levantados indicam que 86% dos consumidores declarados de drogas têm entre 10 anos e 29 anos. Entre os pesquisados que se declararam usuários de drogas, 99% pertencem ao sexo masculino. O estudo mostra ainda que 30% dos usuários freqüentam a universidade, contra apenas 4% da população brasileira. A maioria dos usuários declarados de drogas, no entanto, freqüentam o Ensino Médio (54%). A pesquisa "O Estado da Juventude: drogas, prisões e acidentes" utilizou como instrumento a pesquisa mais atualizada de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a FGV, o dado de quem se declara consumidor declarado de drogas deve ser interpretado como resultado da interação entre as despesas com drogas e a propensão a declará-la. O estudo da Fundação Getulio Vargas levou em conta quatro tipos de droga: maconha, cigarros de maconha, lança-perfume e cocaína.

23 outubro 2007

Notícia do dia. Requentada como o diabo que a cria

Consumir-se em consumado fato
Entregar-se ao malfadado no ato
Deixar-se perder por aflição
Faria o que de si não fosse a provisória ilusão?

Vertendo um sangue de outra classe na veia
Fina enfastiada deixo-a inda mais paupérrima
Famigerada e açulada sanha subindo
Ruelas trocadas por elevadores e sacadas

Dão cobertura às coberturas
Aos flats engordurados de pó
Empoeirados de fumaça
Enfumaçados de brilho

Em brilhantes bizarrices desatinadas chafurdam
Ao vulgo as pechas da violência emprestam
Não julgo que se pejem, que nada prestam...
Nem justiça alguma os julga – que ainda a comandam

São quem fazem a cegueira dela
E não se ferem com a própria espada
Balança aferindo e conferindo fardos
Esparramados em pó por becos e ruelas

As burras tantas cheias e fartas
A falta do que ter revolta e assalta
A fome besta não matará
Que tem a canga por sobre a cabeça

Outros cantos de outubro ainda virão


Adroaldo Bauer


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Terra – 23.10.2007
Uma pesquisa divulgada na tarde desta terça-feira pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que 62% dos consumidores declarados de drogas no País pertencem à classe A.
Este segmento representa apenas 5,8% da população brasileira.
O estudo mostra ainda que 85% dos usuários são brancos, grupo que compõe 53% da população total no Brasil. Os dados levantados indicam que 86% dos consumidores declarados de drogas têm entre 10 anos e 29 anos. Entre os pesquisados que se declararam usuários de drogas, 99% pertencem ao sexo masculino. O estudo mostra ainda que 30% dos usuários freqüentam a universidade, contra apenas 4% da população brasileira. A maioria dos usuários declarados de drogas, no entanto, freqüentam o Ensino Médio (54%). A pesquisa "O Estado da Juventude: drogas, prisões e acidentes", utilizou como instrumento a pesquisa mais atualizada de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a FGV, o dado de quem se declara consumidor declarado de drogas deve ser interpretado como resultado da interação entre as despesas com drogas e a propensão a declará-la. O estudo da Fundação Getulio Vargas levou em conta quatro tipos de droga: maconha, cigarros de maconha, lança-perfume e cocaína.

17 outubro 2007

Yeda mentiu

Sinuca de bico.
A candidata a governadora do Rio Grande do Sul mentiu em campanha para se eleger.
A governadora do Rio Grande mente agora para escapar de promessas que a elegeram.
A governadora Yeda mentiu antes e mente agora, dizendo o contrário do que pensa para enganar.

Escolha quando, você mesmo:

Rosane de Oliveira: Ela disse e eu não esqueci
Aumento de impostos não estava nos planos da governadora na época de campanha

Fiquei impressionada com o que ouvi há pouco no Gaúcha Hoje: a governadora Yeda Crusius, que veio ao estúdio para responder perguntas de ouvintes, negou peremptoriamente que na campanha eleitoral tenha prometido não aumentar impostos.
— O que eu disse, foi que era possível aumentar a arrecadação sem aumentar impostos. E isso nós fizemos. Cobrimos aqueles R$ 700 milhões que o Estado perdeu com a mudança das alíquotas a partir de 1º de janeiro, mas tudo tem um limite. Eu nunca disse que não aumentaria impostos.
Com todo o respeito à governadora, disse sim. Disse em resposta a esta que vos escreve. E em mais de uma ocasião.
Na campanha eleitoral de 2006 entrevistei todos os candidatos no Polêmica especial da Rádio Gaúcha, no Conversas cruzadas da TVCOM e aqui na Zero Hora. Com todos abordei a crise das finanças públicas e as idéias que tinham para resolver o problema do déficit. Eu até me sentia repetitiva, mas considerava a pergunta fundamental. A todos lembrei que o tarifaço de Rigotto perdia a validade no final daquele ano e que isso significaria uma queda de R$ 500 milhões a R$ 700 milhões na arrecadação de ICMS.
Não vou me ater ao que disseram os derrotados, mas a economista Yeda Crusius se comprometeu, sim, a não aumentar o ICMS. Veio com a história do novo modelo de gestão, da nota eletrônica, de buscar o imposto onde o imposto está. Disse e repetiu que era preciso criatividade, que era economista e sabia como fazer. Que aumentar impostos era "o jeito velho de governar".
Antes mesmo de tomar posse Yeda tentou não apenas renovar o tarifaço de Rigotto, como aumentar outras alíquotas de ICMS. Cobrada por descumprir uma promessa de campanha, justificou-se dizendo que a situação das finanças tinha se agravado e apresentando o fim do tarifaço como uma surpresa, o que definitivamente não era.
A perda desses recursos estava expressa no seu plano de governo, aquele onde diz que a sociedade não tolera mais aumento da carga tributária.

02 outubro 2007

Roberta Sá, o país não é mais o mesmo.

Aqui vamos todos bem, Mãe. Nós estamos bem, mas nem todos neste país estão bem. Mãe, reconheço que alguns estão muito mal. Agora que venho para casa ao meio-dia almoçar com Vinicius, às vezes vejo um programa de esporte no canal 39 coordenado pelo tal Galvão Bueno.

Hoje, por exemplo, ele entrevistou o Técnico Dunga, que aliás, aproveitou para mostrar como se dirige uma seleção de futebol. Mas não é sobre isso que quero escrever.

No tal programa apareceu uma cantora, ou cantante como dizem nossos “hermanos” latinos: Roberta Sá. A mulher é até bonitinha, canta bem, mas é absolutamente analfabeta de Pai e Mãe.

A moça veio apresentar seu CD novo chamado “que belo estranho dia pra ter alegria” e lá pelas tantas disse:

- Notícia boa no Brasil é só na cultura ou esporte.

É burra ou analfabeta, não dá outra.

Minha impressão sobre a tal moça é que ela viajou para o centro da África em 2002 e ficou lá isolado do universo e voltou agora, saiu do avião e caiu lá no programinha do Galvão Bueno. Não leu nada, não ouviu nada, não falou com ninguém.

Eu acho que ela ainda acredita que o Presidente é o tal FHC ou pior. Coitada, enganou-se.

Depois que ela viajou na maionese ou para África Central, tanto faz, o Brasil mudou. Em 2003 a inflação era de 17% ao ano, hoje é 4,24%; os juro era 26% hoje é 11%; o risco Brasil era 2400 pontos, hoje é 162 pontos, o dólar agora é R$ 1,82; 15% da população que estava abaixo da linha da miséria saiu de lá e mais, pasme, 1 de cada 4 pessoas do Paraná que estavam abaixo da linha da miséria, saíram de lá.

Pior, Mãe, o Mundo viveu uma crise imobiliária, bolsas despencando e o Brasil passou batido, nada de problema ainda que a Rede Globo tivesse torcido para que os efeitos da tal crise afetassem a economia do país. E nada…

Assim não dá, fica difícil para a oposição, né, Mãe…

Nós vamos bem, mas os analfabetos políticos e desinformados vão mal, muito mal…

Digo mais, quando se lê na imprensa de que políticos são processados e colarinhos brancos são presos não são notícias ruins, ao contrária, agora tem polícia, tem vontade política em fazer justiça e imprensa interessada em divulgar.

Lembro que quando eu passava mais de 24 horas preso na Av. Paraná - na Polícia Federal de Porto Alegre - não havia nenhum repórter para divulgar se eu sairia vivo ou morto. Onde estava a imprensa naquela época? Escondida, com medo e nada dizia.

Beijos e Saudades.

Augusto

23 setembro 2007

O caso do livro no 'index'

por Luis Nassif



A guerra ideológica continua produzindo uma vítima recorrente:a notícia. Digo isso a propósito do artigo de Ali Kamel em "O Globo", reproduzido no "Estadão", desancando o livro "Nova História Crítica, 8ª série" - acusado por ele de doutrinação comunista -, e denunciando o MEC (Ministério da Educação) de distribuí-lo gratuitamente. A denúncia repercutiu na imprensa mundial, de "El Pais", na Espanha, ao "Miami Herald", nos Estados Unidos.
Na verdade o livro foi adotado pelo MEC em 2002, gestão Fernando Henrique Cardoso, e deixou de ser adotado em abril deste ano, gestão Luiz Ignácio Lula da Silva. E Kamel sabia disso.
***
Nem a indicação foi culpa de FHC (se é que se pode falar em culpa), nem a desclassificação foi obra de Lula. Kamel sabia que o processo de seleção de livros, pelo MEC, virou uma política de estado, ainda na gestão FHC, e não houve nenhuma modificação que sinalizasse para sua politização.
O sistema de seleção criado virou padrão para muitos países. O papel do MEC é definir um conjunto de universidades que sejam centros de excelência. Depois, cada qual indica professores para analisar as obras. O MEC avalia apenas se há conflito de interesses, se o professor eventualmente tem ligação com alguma editora.
Em seguida, todos são chamados a Brasília e lhes são entregues os livros sem identificação de editora ou autor. As obras recomendadas entram em uma lista do MEC e são apresentadas às escolas, para escolha dos professores.
***
O livro em questão entrou para a lista em 2002, devido à avaliação positiva de um professor da UNESP (Universidade Estadual Júlio de Mesquita Neto), ainda na gestão Paulo Renato de Souza. Quem retirou de pauta, na última avaliação, em abril passado, foi a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pois os novos avaliadores entenderam que as ressalvas eram fortes demais para que permanecessem. Nem o MEC interferiu no primeiro movimento, nem interferiu no segundo. A única mudança que fez foi ampliar o número de universidades de quatro para oito. O livro acabou vetado por um avaliador de uma nova universidade incluída na seleção.
***
Repito, Kamel sabia disso. Mais. Na seleção de trechos que colocou, do livro, menciona o que considera loas aos regimes comunistas. Mas deixou de fora trechos do livro em que há críticas explícitas ao marxismo, a Stalin e a Mao.
Pior: homem que domina as estatísticas, deixou as ferramentas de lado na hora de analisar as obras colocadas à disposição dos professores. Existem 400 livros didáticos apenas na 4ª e 5ª séries. Não se valeu sequer de amostragem estatística, como, por exemplo, avaliar 20 livros e constatar problemas em parte deles.

17 setembro 2007

As histórias que a RBS não conta

por Marco Weissheimer, do RS Urgente

A RBS iniciou as comemorações de seus 50 anos com pompa, circunstância e uma conveniente dose de amnésia.
O caderno especial publicado nesta sexta-feira, no jornal Zero Hora, omite alguns fatos importantes que marcaram a história e o crescimento do grupo.
Mais do que isso, distorce fatos, em especial aqueles relacionados ao período da ditadura militar. Como a maioria da grande mídia brasileira, a empresa gaúcha apoiou o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart.
O jornal Zero Hora ocupou o lugar da Última Hora, fechado pelo regime militar por apoiar Jango. Esse é o batismo de nascimento de ZH.
Como escreveu Eleutério Carpena, em uma edição especial da revista Porém sobre a RBS, "a mão que balança o berço de ZH é da violência contra o Estado Democrático de Direito".
Três dias depois da publicação do famigerado Ato Institucional n° 5 (13 de dezembro de 1968), ZH publicou matéria sobre o assunto afirmando que "o governo federal vem recebendo a solidariedade e o apoio dos diversos setores da vida nacional".
No dia 1° de setembro de 1969, o jornal publica um editorial intitulado "A preservação dos ideais", exaltando a "autoridade e a irreversibilidade da Revolução". A última frase editorial fala por si: "Os interesses nacionais devem ser preservados a qualquer preço e acima de tudo".
A expansão da empresa se consolidou em 1970, quando foi criada a sigla RBS, de Rede Brasil Sul, inspirada nas três letras das gigantes estrangeiras de comunicação CBS, NBC e ABC. A partir das boas relações estabelecidas com os governos da ditadura militar e da ação articulada com a Rede Globo, a RBS foi conseguindo novas concessões e diversificando seus negócios.
Outro fato marcante da história do grupo que não é mencionada no caderno comemorativo é a ativa participação da empresa no processo de privatização da telefonia no RS, durante o governo de Antônio Britto, ex-funcionário da RBS.
Aliás, não só no RS. Segundo pesquisa realizada por Suzy dos Santos (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da UFBa e Sérgio Capparelli (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Fabico/UFRGS) , a RBS esteve presente em praticamente todos os momentos do processo de privatização das telecomunicações no país, durante o governo FHC. O ex-ministro- chefe da Casa Civil do governo FHC, Pedro Parente, assumiria depois um alto cargo na direção da RBS.
Aqui no RS, desde o golpe de 1964, a empresa sempre teve uma relação íntima com os governantes de plantão. Com uma exceção, o governo Olívio Dutra, fustigado desde seu primeiro dia e pintado como um monstro que ameaçava os homens e mulheres de bem do Rio Grande.

Esses fatos você não verá expostos na exposição organizada pela empresa na Usina do Gasômetro (gentilmente cedida pela administração Fogaça) e em nenhum dos veículos do grupo que, nos próximos dias, praticará, à máxima potência, a arte do auto-elogio e da amnésia seletiva...

30 agosto 2007

Curitiba, 30 de agosto de 2007.

Mãe, aqui vamos todos bem. Vinicius tirando sarro da ignorância do povo dos EUA por absoluta ignorância daquele povinho e eu cada vez mais indignado com a imprensa brasileira que é, na realidade norte americana.

Sabe, Mãe, existem metas acordadas mundialmente para que os países atinjam no século XXI, mais precisamente até 2015. Pois bem, o Brasil já chegou nestas metas em 2007, sete anos antes da previsão.

Mas a imprensa brasileira critica todos os dias.A idiota da Ana Maria Braga faz a lavagem cerebral da manha, a Rede Globo via Bom dia Brasil anuncia o imaginário e o Jornal do Almoça arrebenta e o Jornal do Almoço como com críticas e na noite o Jornal da Mentira, digo, da Noite bate no Governo que salvou o país de ser mais um paizinho de merda.
Então entra o Jô Soares no ar para dizer, com suas meninas loiras e morenas, que o Brasil está no fundo do poço.Posso não ser a expressão da inteligência da humanidade, mas sei ler e ouvir.

O que leio é que o Brasil sempre sofreu no passado as mutilações as economia mundial, que na época da ditadura sofreu com todas as crises mundiais e que com o fim da Ditadura Militar sangrenta as crises mundiais arrasaram o Governo do Fernando Henrique.Pois bem, o Mundo enfrenta uma enorme crise nos EUA – os idiotas de plantão – na Europa e na Ásia. Bolsas de Valores quebradas e os Governos do EUA, da Europa e da Ásia colocando milhões de dólares para evitarem a quebradeira geral.E o Brasil?

Nada Mãe, tudo na santa paz que o Governo Lula construiu. Calmo, sereno e tranqüilo.A imprensa? Nada. Os covardes idiotas não dizem nada, são desprovidos de massa cefálica, não pensam ou só pensam em si mesmo.Ninguém comemorou o fato de que o Brasil continua na boa, nada afetou nosso país.Nada, absolutamente nada e as idiotas do Jô Soares continuam a defecar pela boca como se soubessem algo de economia.É, cansei da chamada elite burra brasileira, cansei.
Beijos e Abraços,

Augusto.

26 agosto 2007

As cansadas e o Jô Soares na decadência!

Mãe, aqui vamos todos bem. Ambos felizes, afetivamente, o Vinicius se recuperando em matemática e eu fazendo exames, médicos, é claro.
Para a decepção de alguns, talvez moradores de Maringá, o médico localizou meu coração, é grande e forte, capaz de agüentar desprazeres que o egoísmo alheio pode proporcionar.
É preciso ter força para agüentar tanta hipocrisia da classe média que nunca viveu tão bem e ainda reclamam de forma egoísta como as meninas do Jô Soares. Aquelas que aparecem eventualmente para criticar a economia do país ou de que não estão ganhando tanto quanto antes.

Pior, o Jô Soares, programinha de classe média do fim do dia é, como tantos outros programas da Rede Globo, cópia de programas americanos, até no tipo de piada. O Jô Soares está no fim de linha, é lamentável como um humorista tão brilhante e culto se vende para ser garoto (agora fui gentil) propaganda de uma Rede Globo e da classe média tão reacionária como a do Brasil, que acredita ser elite.


A Rede Globo e o Jô Soares já possuem tempo para aposentadoria, não achas?
Mais ainda, é a mesma classe média que em 1964 apoiou o Golpe Militar que trouxe ao Brasil a versão americana das ditaduras militares contra um Governo que enfrentava ao seu tempo o imperialismo ianque. A imagem que circula na internet do símbolo decadente e conservadora de classe média revela, emblematicamente, a verdadeira face da elite brasileira que sempre, historicamente, se escondeu atrás da classe média medíocre.
Mãe, enquanto as meninas do Cansei aproveitam os preços baixos das cirurgias plásticas o povo pobre deste país come bem, tem acesso à Universidade e ocupa espaço na política contra a elite decadente.
Terei muito tempo para acompanhar a trajetória de Jô Soares e Regina Duarte que tinha medo em 2002, que agora está cansada, de ficar mais apavorada com a parte da elite brasileira ser presa por corrupção.
Beijos e abraços,
Saudades,
Augusto

07 agosto 2007

Culpa de quem mesmo?

(Da Coluna de David Coimbra, em 6 de agosto)

Culpa do Lula!
Recebo matéria assinada por Fernando Carvalho, da agência espanhola Efe. Podia ser da lavra de algum gaiato, tudo bem. Mas, não, dou uma rápida olhada no Google e o cara existe, mesmo.
Dá uma conferida:
"Toda a obsessão é um mal da mente. Nesta nova viagem que faço ao Brasil encontro os jornais brasileiros, ou melhor, seus chefes de redação, acometidos de uma moléstia mental coletiva que beira a obsessão". "Tudo, absolutamente tudo, para eles é culpa do presidente do país." Rindo bastante hoje pela manhã, entre uma caipirinha e outra, foi assim que
Heinz Achlochstrecher,79, famoso psiquiatra suíço, radicado na cidade de Ulm, na Alemanha, comentou as notícias que leu nos jornais de hoje, no hall do Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, onde está hospedado em visita de férias ao Brasil. "Essa história do assessor do Lula que foi filmado fazendo gestos obscenos, por entre as cortinas de seu próprio escritório, é um caso raro."

Culpa do Lula! 2
Continua:
Para o psiquiatra, ter a imprensa ligado a cena dos gestos obscenos ao anúncio de que um avião tinha apresentado problemas mecânicos, sem haver um áudio comprovando isso, é absolutamente doentio.
"A obsessão por culpar o presidente por tudo expõe esses jornalistas ao ridículo".
"Depois de passar três dias inteiros de manhã à noite culpando o governo pela falta de umas ranhuras que só 5 pistas de aeroporto possuem em todo o país, a mídia, em vez de fazer autocrítica quando o vice-presidente técnico da TAM revelou que o avião estava com o reverso desligado no momento do pouso, sai como louca em busca de uma nova imagem sensacionalista para desviar a atenção do público para a mentira que repetiu setenta e duas horas seguidas, sem descanso, sobre as tais "ranhuras indispensáveis", afirmou o Prêmio Nobel de Psiquiatria de 1988.
"Podia ser o Lula tirando meleca. Podia ser Dona Marisa limpando o sapato depois de pisar em cocô de um dos cachorrinhos do presidente. Podia ser qualquer coisa, contanto que desviasse a atenção. Quis o destino que
fosse o tal assessor, fazendo top-top atrás da cortina do seu escritório. Então, desce o pano rápido e vamos de assessor!”