22 julho 2007

Curitiba, 22 de julho de 2007.

Caro Presidente Lula:

Companheiro, minhas palavras são no sentido de contribuir com o NOSSO governo. Sinto-me parte dele e por esta razão quero dar minha opinião sobre o Ministério da Justiça.

Penso que o Ministro Tarso Genro é completamente adequado ao cargo, mas poderia ser mais útil ao Governo em outra posição. O Ministério da Justiça poderia ser substituído pela Rede Globo. Ela investiga, julga, condena e difama, não sendo mais necessário nenhuma outra ação.

Também acredito que a responsabilidade técnica – e as taxas incluídas – da INFRAERO poderia ser transferida para a Rede Globo, também. Ela tem demonstrado conhecimento preciso antes de qualquer tipo de investigação ou exames das caixas pretas no caso do último acidente aéreo.

Presidente, o Ministério da Justiça poderia ser extinto e o companheiro Tarso Genro poderia se preocupar com uma análise sobre a concessão que a Rede Globo possui e que poderá não ser renovada em setembro. Este trabalho de análise é fundamental, afinal de contas a tal Rede presta tão valiosos serviços à sociedade brasileira.

Caso seja cancelada a concessão dela, então, por favor, não extinga o Ministério da Justiça.

Atenciosamente,
Zaniratti

Eu sempre escutei minha Mãe.

Minha rotina mudou. Levanto cedo e saio pela rua olhando para os lados, fico atento para tudo que está ocorrendo em todas as direções. Será que há alguém me seguindo?

Ao telefone, sou monossilábico, frases simples, sem gírias, expressões precisas. Se falar algo que dê duplo sentido me preocupo. Será que meu telefone está sendo gravado?

Quando chego em casa, entro cuidadosamente, procuro por câmaras, olho em baixo da cama, entro no banheiro, cozinha, sempre atento. Fecho a cortina quando estou em casa, não ando sem roupa em casa, não pelo meu corpo feio, mas porque qualquer imagem poderá – e será – usada contra mim. Dentro de casa minha liberdade é igual como se estivesse na rua. Será que estou sendo filmado?

No sentimento é semelhante ao tempo da ditadura militar do Século XX. Nos cuidados agora são maiores porque a tecnologia avançou e o Estado não é mais fonte de espionagem.

Agora é a imprensa que vigia, grava, filma, divulga, julga e condena qualquer um que possa ser fonte de audiência e então, fonte de mais dinheiro. Vender é a ordem, qualquer que seja o custo, importa a manchete e não o conteúdo ou dignidade. Tudo é secundário, compromisso com a verdade e a possibilidade de múltiplas versões são detalhes que ficaram perdidos no século passado.

Imagino uma das frases de uma Mãe tão dedicada:

- “Meu filho, mentir é feio, prejudica as pessoas. Não quero que você minta, nunca mais”.

Frase cotidiana da Mãe de Roberto Marinho... Ele não escutou, imagino.

Eu sempre escutei minha Mãe.

04 julho 2007

Essa gente nada aprendeu


O jornal gaúcho Zero Hora publicou uma matéria falando sobre a ameaça de cassação do mandato do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB). Curiosamente, na foto que ilustra a matéria, quem aparece em destaque é...
o presidente Lula.

Por Marco Aurélio Weissheimer – Agência Carta Maior.




Os editores dos grandes veículos de comunicação acreditam piamente – ou dizem acreditar – que praticam um jornalismo isento, objetivo e imparcial. Rebatem energicamente qualquer crítica sobre seu trabalho, procurando jogar no colo de quem faz a crítica a “ameaça à liberdade de imprensa”. Quando são surpreendidos em delito, quando a hipocrisia se revela concretamente, silenciam e apostam na pouca repercussão das vozes que apontam a nudez do rei. Um exemplo disso ocorreu neste domingo (1°), na edição do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. O jornal do grupo RBS publicou uma matéria sobre ameaça de cassação que paira sobre o governador da Paraíba, o tucano Cássio Cunha Lima, acusado de distribuir cheques na campanha eleitoral de 2006. O detalhe curioso é que a foto que ilustra a matéria traz em primeiro plano....o presidente Luiz Inácio Lula da Silva!

O texto da matéria não faz nenhuma referência ao presidente da República e fala da crise institucional gerada na Paraíba a partir da decisão do Ministério Público daquele Estado, pedindo a cassação de Cássio Cunha Lima (PSDB). Como explicar então a imagem em primeiro plano de Lula ilustrando a matéria? Difícil, para ser generoso, encontrar um critério editorial para entender a decisão. Olhando para a edição do jornal em seu conjunto talvez surja uma explicação. Duas páginas após a matéria envolvendo governador tucano, um artigo de meia página do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso adverte para “a sensação de impotência diante de tanto descalabro” no país. “A indignação com a corrupção advém de sua impunidade”, filosofa FHC, que não chega a mencionar o caso de seu correligionário ameaçado de ter o mandato cassado na Paraíba.

Ainda na mesma edição, uma matéria de duas páginas destaca “a Fantástica Fábrica de Sucessos de Aécio Neves”. O texto derrama-se em elogios à gestão tucana de Aécio em Minas Gerais, dizendo que ela “projeta o governador para 2010”. A “terra do choque de gestão” é apresentada como modelo para o Brasil. Como se fosse um jogo de armar, logo antes dessa matéria, outras duas páginas são dedicadas à crise financeira no Rio Grande do Sul, perguntando pelo melhor caminho para a sua superação. O leitor vira a página e dá de cara com a “Fantástica Fábrica de Sucessos de Aécio Neves”. Vira mais duas páginas e lê a matéria do governador da Paraíba com a foto de Lula em destaque. Mais duas e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dá suas receitas para superar a crise moral do país. Tudo isso em uma mesma edição.

O diretor de Redação de ZH, Marcelo Rech, expõe, também na edição dominical, a sua visão sobre o que é o bom jornalismo e a liberdade de imprensa: “Cabe à imprensa assegurar os espaços para todos os lados e não se intimidar. À opinião pública, cabe avaliar as diferentes informações e opiniões, e delas extrair suas conclusões”. Seguindo a regra sugerida por Rech, qual a conclusão que deve ser extraída a respeito de um jornal que, entre outras coisas, publica uma matéria negativa sobre um governador do PSDB com a foto de um petista em destaque (petista que, por acaso – ou não –, é o presidente da República)? E que cerca essa matéria com várias páginas exaltando as idéias do ex-presidente e do modo tucano de governar. Onde está mesmo o “espaço para todos os lados”? Onde estão as “diferentes informações e opiniões” que constituiriam a máxima do bom jornalismo?

Considerando o princípio da liberdade de expressão, um veículo de comunicação tem o direito de publicar textos, sons e imagens que julgar apropriados para seus propósitos. O problema é quando os propósitos são “soterrados por mantos de silêncio”, para usar uma expressão do diretor de redação de ZH, ao defender a liberdade de expressão. Ele escreve: “O direito de espernear e criticar, inclusive a imprensa, é legítimo. Essa é uma das maravilhas da liberdade de expressão. É a mesma liberdade, aliás, que tanto irrita autoridades dos três poderes que gostariam de ver informações, opiniões e debates soterrados sob mantos de silêncio”. Outra “maravilha da liberdade de expressão” não é mencionada por Rech: a de manter um mínimo de coerência nas escolhas editoriais. Publicar um texto com uma denúncia envolvendo um líder político de um partido X, com uma foto onde o destaque é um líder do partido adversário de X não parece ser exatamente uma “maravilha de escolha”.

Maravilha seria o editor de ZH explicar aos leitores por que decidiu destacar a imagem de Lula em uma matéria onde o envolvido em denúncias é um governador do PSDB. Maravilha seria explicar aos leitores quais são os critérios editoriais adotados na definição de textos e fotos. Maravilha seria assumir explicitamente qual o ideário político defendido pelo jornal, ao invés de fazer uma hipócrita apologia da isenção. Alguns dos maiores jornais do mundo fazem isso há muitos anos, o que garante ao leitor um mínimo de transparência acerca do lugar a partir do qual o jornal em questão está falando.O caso em questão, onde a imagem de Lula na matéria sobre Cássio Cunha Lima vale por mil palavras, revela, na verdade, dois problemas que ultrapassam o tema da falta de transparência: falta de seriedade e sensação de impunidade. Em nome das “maravilhas da liberdade de expressão”, tudo é permitido, mesmo publicar uma denúncia contra Pedro e publicar em destaque uma foto de João.