23 abril 2009

ainda há raisoçáiti e quem queira lá chegar

Governadora gaúcha descansa com líder dos "cansados"

Todos os anos – já está na oitava edição – acontece um evento promocional do grupo hoteleiro Transamérica, na ilha baiana de Comandatuba.

Os hotéis Transamérica pertencem ao grupo Alfa, do milionário mineiro Aloysio de Andrade Faria, hoje, com 89 anos de idade. Faria é um velho banqueiro brasileiro.

Anos atrás, em 1998, o banqueiro vendeu o seu tradicional Banco Real ao holandês ABN Amro Bank. Fundou, então, o Banco Alfa, voltado ao segmento “personal banking” para clientes de fino trato, quase todos rentistas e compradores de papéis da dívida pública brasileira, que paga os juros mais altos do mundo, já há muitos anos.

Todo o santo ano, essa faixa da população brasileira – cerca de 200 mil pessoas muito ricas – embolsam o equivalente a 150 bilhões de reais da riqueza brasileira – não gerando nenhum emprego sequer.

Ano passado, a revista Forbes informou que o banqueiro Aloysio de Andrade Faria foi classificado como o sétimo homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em 3,7 bilhões de dólares.

Assim, o Grupo Alfa contrata o jornalista e promotor de eventos João Doria Júnior para organizar um “meeting” anual variado, de empresários e autoridades estaduais e federais de múltiplos partidos. As pessoas assistem conferências – ano passado o tema foi Educação – e desfrutam das comodidades de um hotel de primeira linha, na paradisíaca ilha baiana de Comandatuba. Milton Friedman dizia que não existe almoço de graça, mas neste evento do ex-líder do “Movimento Cansei”, é tudo grátis, da passagem aérea ao vinho tinto italiano, safra 1978. Certamente, o “centro de custo” do investimento fica no Banco Alfa, já que Doria Júnior é apenas o animador fashion do faustoso acontecimento.

Esses eventos organizados para a fabulação do poder confirmam aquilo que Sérgio Buarque chamava de ordem cordial das elites brasileiras, uma aproximação calculada para fazer da subjetividade dos agentes públicos o alvo privilegiado de futuros negócios privados. O cenário edênico, a comida farta, a bebida espirituosa dissolvem resistências, aproximam distâncias, oportunidades e semeiam a imaginação de um porvir repleto de realizações pessoais para todos os convivas.

Em maio de 2005, a revista “Veja São Paulo” (a popular Vejinha) fez a seguinte pergunta ao jornalista João Doria Júnior:

"É verdade que no Rancho Doria, sua mansão em Campos do Jordão, ao voltar de um passeio a pé, os hóspedes antes de entrar na sala têm seus tênis limpos por um empregado?"

Júnior respondeu: ”Fazemos de tudo para ter a qualidade de um hotel cinco-estrelas. Tenho um bom time que poderia muito bem trabalhar em qualquer hotel dessa categoria. Eu e a Bia (sua mulher, a designer de jóias Bia Doria) gostamos muito de receber. As pessoas que convidamos para ficar lá são sempre muito bem tratadas e usufruem esse tipo de cuidado, sim”.

Como se pode deduzir, a governadora escolhe muito bem as suas companhias de feriados prolongados. Enquanto o Estado está submerso em epidemias de tempos medievais, a governadora regala-se com tratamento de rainha de Sabá.

Coisas da vida.

17 abril 2009

assim é se lhe parece


Podemos concluir várias coisas de um procedimento, suas razões, seus objetivos. Qualquer unha de pé de galinha tem dado boa canja nos tempos atuais.
Suponha-se que um senador relatou favoravelmente todos os processos de privatização de empresas públicas por oito anos.
Suponha que ele tinha como única atividade fazer essa boa redação, que sabia escrever bem em português, sua habilidade também na fala.
Suponha que as empresas vendidas deixaram os passivos trabalhistas com a União e foram a leilão as partes lucrativas, rentáveis, limpas de ônus passados, mesmo de impostos devidos... Só o filé.
E que o banco social do determinado país que detinha a propriedade pública das empresas ainda financiou os compradores com juros ajutórios, tipo esmolas que dão a pobres, mas como era para dar a ricos, era tão grande a esmola que até santo desconfiaria.
Ninguém achou nada de ilegal nos contratos de entrega do patrimônio público ao interesse privado, em telefonia, energia elétrica, transporte ferroviário, operação de terminais portuários, siderurgia... outras áreas de controle estatal exclusivas que se foram bandeadas para a iniciativa privada.
Agora, recentemente, muitas ou quase todas elas estão a pedir uns trocados a mais para os governos aqui e nos seus países de origem, porque um panaca estourou a tal de bolha neoliberal... Abriu a lata de sardinhas 30 anos depois... O negócio fedeu, digamos assim.
Esse senador se elege prefeito e, medida cautelar, instala roletas de vigia de controle de acesso ao prédio em que trabalham servidores públicos novos e antigos, alguns há mais de 30 anos.
Então, uma estagiária porque é necessário oferecer estágios para a formação profissional da juventude estudante, está a cumprir operosa uma regra baixada na administração renovada do então senador.
- Bolsa grande tem que notificar a entrada
- Sou funcionário daqui há 20 anos.
- É ordem
- Tem que notificar a entrada
Abro o fecho peço que reviste então.
- É só para notificar a entrada para poder sair depois.
- O que eu tenho agora aqui dentro não importa?
- É só para notificar entrada para permitir a saída

Curioso é que o bilhete que me foi entregue assinado por um primeiro nome que até meu filho de 12 anos imita, diz expressamente, no espaço assinado: vistoriado por.
Percebe-se, então, que o prefeito, no seu intento de julgar os demais por si, não consegue governar a porta da casa, porque está dito ali o que não foi feito.
- Não é vistoria, insistiu a estagiária, por óbvio a quem não pode ser atribuída incompetência da gestão, nem truculência do gestor.
Se não é revista ou é medida inócua, atrabiliária, desrespeitosa e desnecessária ou procedimento padrão de intimidação.
Em tempo: o sindicato dos servidores municipais se encontra em campanha salarial para reposição de perdas históricas nos vencimentos.
Podemos concluir várias coisas de um procedimento, suas razões, seus objetivos... qualquer coisa pode ser concluída por quem quer que seja, basta entender o que lhe parece e assim será, mesmo que não o seja.

07 abril 2009

Jornalista denuncia má-fé da Folha e armação contra Dilma

O jornalista Antonio Roberto Espinosa, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), encaminhou carta à redação da Folha de S.Paulo, protestando contra a edição da entrevista por telefone que concedeu ao jornal e que originou a matéria “Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Neto”, publicada no domingo (5).



Espinosa acusa a Folha de preparar uma “armadilha” para a ministra Dilma Rousseff usando uma entrevista que concedeu a uma das suas repóteres da sucursal de Brasília. Na carta que encaminhou à redação, ele denuncia a má fé dos editores do jornal. Segue a íntegra da correspondência:

Prezados senhores,
Chocado com a matéria publicada na edição de hoje (domingo, 5), páginas A8 a A10 deste jornal, a partir da chamada de capa “Grupo de Dilma planejou seqüestro de Delfim Neto”, e da repercussão da mesma nos blogs de vários de seus articulistas e no jornal Agora, do mesmo grupo, solicito a publicação desta carta na íntegra, sem edições ou cortes, na edição de amanhã, segunda-feira, 6 de abril, no “Painel do Leitor” (ou em espaço equivalente e com chamada de capa), para o restabelecimento da verdade, e sem prejuízo de outras medidas que vier a tomar. Esclareço preliminarmente que:

1) Não conheço pessoalmente a repórter Fernanda Odilla, pois fui entrevistado por ela somente por telefone. A propósito, estranho que um jornal do porte da Folha publique matérias dessa relevância com base somente em “investigações” telefônicas;

2) Nossa primeira conversa durou cerca de 3 horas e espero que tenha sido gravada. Desafio o jornal a publicar a entrevista na íntegra, para que o leitor a compare com o conteúdo da matéria editada. Esclareço que concedi a entrevista porque defendo a transparência e a clareza histórica, inclusive com a abertura dos arquivos da ditadura. Já concedi dezenas de entrevistas semelhantes a historiadores, jornalistas, estudantes e simples curiosos, e estou sempre disponível a todos os interessados;

3) Quem informou à Folha que o Superior Tribunal Militar (STM) guarda um precioso arquivo dos tempos da ditadura fui eu. A repórter, porém, não conseguiu acessar o arquivo, recorrendo novamente a mim, para que lhe fornecesse autorização pessoal por escrito, para investigar fatos relativos à minha participação na luta armada, não da ministra Dilma Rousseff. Posteriormente, por e-mail, fui novamente procurado pela repórter, que me enviou o croquis do trajeto para o sítio Gramadão, em Jundiaí, supostamente apreendido no aparelho em que eu residia, no bairro do Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro. Ela indagou se eu reconhecia o desenho como parte do levantamento para o seqüestro do então ministro da Fazenda Delfim Neto. Na oportunidade disse-lhe que era a primeira vez que via o croquis e, como jornalista que também sou, lhe sugeri que mostrasse o desenho ao próprio Delfim (co-signatário do Ato Institucional número 5, principal quadro civil do governo ditatorial e cúmplice das ilegalidades, assassinatos e torturas).

Afirmo publicamente que os editores da Folha transformaram um não-fato de 40 anos atrás (o seqüestro que não houve de Delfim) num factóide do presente (iniciando uma forma sórdida de anticampanha contra a Ministra). A direção do jornal (ou a sua repórter, pouco importa) tomou como provas conclusivas somente o suposto croquis e a distorção grosseria de uma longa entrevista que concedi sobre a história da VAR-Palmares. Ou seja, praticou o pior tipo de jornalismo sensacionalista, algo que envergonha a profissão que também exerço há mais de 35 anos, entre os quais por dois meses na Última Hora, sob a direção de Samuel Wayner (demitido que fui pela intolerância do falecido Octávio Frias a pessoas com um passado político de lutas democráticas). A respeito da natureza tendenciosa da edição da referida matéria faço questão de esclarecer:

1) A VAR-Palmares não era o “grupo da Dilma”, mas uma organização política de resistência à infame ditadura que se alastrava sobre nosso país, que só era branda para os que se beneficiavam dela. Em virtude de sua defesa da democracia, da igualdade social e do socialismo, teve dezenas de seus militantes covardemente assassinados nos porões do regime, como Chael Charles Shreier, Yara Iavelberg, Carlos Roberto Zanirato, João Domingues da Silva, Fernando Ruivo e Carlos Alberto Soares de Freitas. O mais importante, hoje, não é saber se a estratégia e as táticas da organização estavam corretas ou não, mas que ela integrava a ampla resistência contra um regime ilegítimo, instaurado pela força bruta de um golpe militar;

2) Dilma Rousseff era militante da VAR-Palmares, sim, como é de conhecimento público, mas sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou de ações ou do planejamento de ações militares. O responsável nacional pelo setor militar da organização naquele período era eu, Antonio Roberto Espinosa. E assumo a responsabilidade moral e política por nossas iniciativas, denunciando como sórdidas as insinuações contra Dilma;

3) Dilma sequer teria como conhecer a idéia da ação, a menos que fosse informada por mim, o que, se ocorreu, foi para o conjunto do Comando Nacional e em termos rápidos e vagos. Isto porque a VAR-Palmares era uma organização clandestina e se preocupava com a segurança de seus quadros e planos, sem contar que “informação política” é algo completamente distinto de “informação factual”. Jamais eu diria a qualquer pessoa, mesmo do comando nacional, algo tão ingênuo, inútil e contraproducente como “vamos seqüestrar o Delfim, você concorda?”. O que disse à repórter é que informei politicamente ao nacional, que ficava no Rio de Janeiro, que o Regional de São Paulo estava fazendo um levantamento de um quadro importante do governo, talvez para seqüestro e resgate de companheiros então em precárias condições de saúde e em risco de morte pelas torturados sofridas. A esse propósito, convém lembrar que o próprio companheiro Carlos Marighela, comandante nacional da ALN, não ficou sabendo do seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Por que, então, a Dilma deveria ser informada da ação contra o Delfim? É perfeitamente compreensível que ela não tivesse essa informação e totalmente crível que o próprio Carlos Araújo, seu então companheiro, diga hoje não se lembrar de nada;

4) A Folha, que errou a grafia de meu nome e uma de minhas ocupações atuais (não sou “doutorando em Relações Internacionais”, mas em Ciência Política), também informou na capa que havia um plano detalhado e que “a ação chegou a ter data e local definidos”. Se foi assim, qual era o local definido, o dia e a hora? Desafio que os editores mostrem a gravação em que eu teria informado isso à repórter;

5) Uma coisa elementar para quem viveu a época: qualquer plano de ação envolvia aspectos técnicos (ou seja, mais de caráter militar) e políticos. O levantamento (que é efetivamente o que estava sendo feito, não nego) seria apenas o começo do começo. Essa parte poderia ficar pronta em mais duas ou três semanas. Reiterando: o Comando Regional de São Paulo ainda não sabia com certeza sequer a freqüência e regularidade das visitas de Delfim a seu amigo no sítio. Depois disso seria preciso fazer o plano militar, ou seja, como a ação poderia ocorrer tecnicamente: planejamento logístico, armas, locais de esconderijo etc. Somente após o plano militar seria elaborado o plano político, a parte mais complicada e delicada de uma operação dessa natureza, que envolveria a estratégia de negociações, a definição das exigências para troca, a lista de companheiros a serem libertados, o manifesto ou declaração pública à nação etc. O comando nacional só participaria do planejamento , portanto, mais tarde, na sua fase política. Até pode ser que, no momento oportuno, viesse a delegar essa função a seus quadros mais experientes, possivelmente eu, o Carlos Araújo ou o Carlos Alberto, dificilmente a Dilma ou Mariano José da Silva, o Loiola, que haviam acabado de ser eleitos para a direção; no caso dela, sequer tinha vivência militar;

6) Chocou-me, portanto, a seleção arbitrária e edição de má-fé da entrevista, pois, em alguns dias e sem recursos sequer para uma entrevista pessoal – apelando para telefonemas e e-mails, e dependendo das orientações de um jornalista mais experiente, no caso o próprio entrevistado -, a repórter chegou a conclusões mais peremptórias do que a própria polícia da ditadura, amparada em torturas e num absurdo poder discricionário. Prova disso é que nenhum de nós foi incriminado por isso na época pelos oficiais militares e delegados dos famigerados Doi-Codi e Deops e eu não fui denunciado por qualquer um dos três promotores militares das auditorias onde respondi a processos, a Primeira e a Segunda auditorias de Guerra, de São Paulo, e a Segunda Auditoria da Marinha, do Rio de Janeiro.
Osasco, 5 de abril de 2009.

Antonio Roberto Espinosa é jornalista, professor de Política Internacional e doutorando em Ciência Política pela USP.