31 outubro 2008

"A luta de classes é permanente" (*)

Publicado originalmente no dia 27 de outubro

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul lamenta e repudia as agressões sofridas pelo jornalista Graciliano Rocha, do jornal Folha de S.Paulo, no comitê do candidato José Fogaça, ao final da apuração das eleições municipais, no domingo à noite. Segundo o profissional de 31 anos, ele foi intimado por um estranho dentro do comitê, assim que o candidato reeleito se preparava para conceder uma entrevista coletiva. "Olha, tu não és bem quisto aqui. Só escreve matéria f.d.p.", teria dito o homem. Ao final da coletiva e depois que Fogaça se dirigiu à rua para falar para a militância, Rocha foi abordado pelo mesmo homem na porta de saída. "Levei um soco no supercílio esquerdo e, a seguir, vários outros pelo corpo. Surgiu outro homem, que também começou a me soquear", relata.

Diante das agressões, o jornalista caiu no chão e começou a levar pontapés das duas pessoas(*), que só pararam depois da chegada de outros jornalistas e de integrantes da cúpula do partido. "Fiz o Boletim de Ocorrência e exame de corpo de delito. Pessoalmente, apesar de estar com o corpo todo dolorido, este é um capítulo encerrado. Mas o jurídico do jornal é que decidirá o que fazer daqui para frente", diz Rocha, lembrando que recebeu solidariedade e pedido de desculpas do jornalista Marcelo Villa Bôas, assessor de Imprensa de Fogaça ainda no domingo.

O profissional está em Porto Alegre desde maio e fez basicamente matérias de cunho político. A que mais chamou a atenção foi a que denunciou o suposto enriquecimento ilícito do deputado estadual Luiz Fernando Záchia, coordenador da campanha de Fogaça. A reportagem provocou a saída do parlamentar do posto. A última foi publicada no último domingo e tratava da distribuição de bônus moradia pelo governo municipal.

O Sindicato entende que este tipo de ocorrência fere a todos os profissionais em exercício no Rio Grande do Sul pois tem o objetivo de cercear a liberdade de informar. Para a entidade, a discordância deve ser resolvida por meio do diálogo e não por agressão física como a que sofreu o jornalista Graciliano Rocha. A direção do Sindicato cobra ainda apuração imediata do caso, a identificação e a punição dos envolvidos nas agressões.

Nota do Sindicato sobre agressão a jornalista vai para os anais da Assembléia Legislativa

A nota oficial divulgada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, repudiando e pedindo a apuração dos responsáveis pela agressão ao jornalista Graciliano Rocha, da Folha de S.Paulo, no comitê do prefeito reeleito de Porto Alegre, José Fogaça, foi inserida nos anais da Assembléia Legislativa gaúcha no dia 28 de outubro. O pedido foi feito pelo deputado Adão Villaverde, do PT, que usou a tribuna em nome de sua bancada para lamentar o episódio ocorrido durante as comemorações no domingo, dia 26 de outubro, em que o jornalista foi agredido com socos e pontapés por militantes inconformados com suas matérias.

O parlamentar disse que, além de lamentar a agressão, deve-se insistir na identificação dos responsáveis, porque esse é o tipo de ato para o qual há necessidade de punição. "Apenas o repúdio, em certa medida, seria uma atitude de conivência com a agressão, autorizando, inclusive, a própria impunidade. Portanto, o repúdio é insuficiente diante de uma situação dessa dimensão. Só será evitada a repetição desse lamentável episódio se formos até as últimas conseqüências, apurando as responsabilidades por tal atitude, por tal conduta", defendeu Villaverde.

Também o deputado Edson Brum, líder partidário do PMDB, subiu à tribuna da Assembléia Legislativa para repudiar a agressão. Solicitou que a nota de repúdio feita pela coordenação da campanha fosse registrada nos anais da Casa. "O PMDB ajudou a conquistar a democracia e a liberdade de Imprensa. Não podemos deixar imputar sob o nosso partido, sob a nossa coligação, e muito menos envolver o prefeito José Fogaça", disse o peemedebista.

Edson Brum leu ainda trecho do manifesto feito pelo Sindicato dos Jornalistas, que afirma que o próprio jornalista agredido foi socorrido por integrantes da cúpula do PMDB. "Queremos que o caso seja apurado até as últimas conseqüências, para que seja identificado e punido o autor da agressão", destacou.

O deputado Raul Carrion, PC do B, que também ocupou a tribuna, se solidarizou com o jornalista Graciliano Rocha. "Trata-se de um conhecido e reconhecido homem da Imprensa, que foi covardemente agredido por haver noticiado de forma autônoma e independente o fato de que teria havido distribuição de bônus-moradia, às vésperas da eleição, pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre. A dita liberdade de Imprensa parece que tem limites até onde atinge os poderosos do momento", destacou.

Para o parlamentar, a agressão não é somente ao jornalista, mas uma agressão à livre Imprensa e ao direito de informar o cidadão dos fatos que ocorrem na sociedade. "Desta tribuna, manifesto o reconhecimento e a solidariedade do PC do B a esse jornalista, que aliás teve todo apoio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul", ressaltou Carrion.
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(*) No milênio passado, a prática era desenvolvida pelos militantes extraviados do MR-8, que derivaram do equívocada luta armada contra a burguesia na ditadura militar para o espancamento de adversários políticos na classe, no sindicalismo, no movimento estudantil, no movimento popular comunitário, isso um tempo antes de tornarem-se assciações de grupos com fins lucrativos (ABC).

24 outubro 2008

Não vá o sapateiro além das chinelas?

Crime (financeiro) contra a humanidade
José Saramago


Pensava escrever no blog sobre a crise económica que nos lançaram para cima quando tive que me dedicar a cumprir um compromisso com outros meios de comunicação. Deixo aqui o que penso e que já foi publicado em Espanha, no jornal Público, e em Portugal, no semanário Expresso.


A história é conhecida, e, nos antigos tempos de uma escola que a si mesma se proclamava como perfeita educadora, era ensinada aos meninos como exemplo da modéstia e da discrição que sempre deverão acompanhar-nos quando nos sintamos tentados pelo demónio a ter opinião sobre aquilo que não conhecemos ou conhecemos pouco e mal.

Apeles podia consentir que o sapateiro lhe apontasse um erro no calçado da figura que havia pintado, porquanto os sapatos eram o ofício dele, mas nunca que se atrevesse a dar parecer sobre, por exemplo, a anatomia do joelho. Em suma, um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar.

À primeira vista, Apeles tinha razão, o mestre era ele, o pintor era ele, a autoridade era ele, quanto ao sapateiro, seria chamado na altura própria, quando se tratasse de deitar meias solas num par de botas. Realmente, aonde iríamos nós parar se qualquer pessoa, até mesmo a mais ignorante de tudo, se permitisse opinar sobre aquilo que não sabe? Se não fez os estudos necessários, é preferível que se cale e deixe aos sabedores a responsabilidade de tomar as decisões mais convenientes (para quem?).


Sim, à primeira vista, Apeles tinha razão, mas só à primeira vista. O pintor de Filipe e de Alexandre da Macedónia, considerado um génio na sua época, esqueceu-se de um aspecto importante da questão: o sapateiro tem joelhos, portanto, por definição, é competente nestas articulações, ainda que seja unicamente para se queixar, sendo esse o caso, das dores que nelas sente.

A estas alturas, o leitor atento já terá percebido que não é propriamente de Apeles nem de sapateiro que se trata nestas linhas. Trata-se, isso sim, da gravíssima crise económica e financeira que está a convulsionar o mundo, a ponto de não escaparmos à angustiosa sensação de que chegámos ao fim de um época sem que se consiga vislumbrar qual e como seja o que virá a seguir, após um tempo intermédio, impossível de prever, para levantar as ruínas e abrir novos caminhos.

Como assim? Uma lenda antiga para explicar os desastres de hoje? Por que não? O sapateiro somos nós, nós todos que assistimos, impotentes, ao avanço esmagador dos grandes potentados económicos e financeiros, loucos por conquistarem mais e mais dinheiro, mais e mais poder, por todos os meios legais ou ilegais ao seu alcance, limpos ou sujos, correntes ou criminosos.

E Apeles? Apeles são esses precisamente, os banqueiros, os políticos, os seguradores, os grandes especuladores, que, com a cumplicidade dos meios de comunicação social, responderam nos últimos trinta anos aos nossos tímidos protestos com a soberba de quem se considerava detentor da última sabedoria, isto é, que ainda que o joelho nos doesse não nos seria permitido falar dele, denunciá-lo, apontá-lo à condenação pública.

Foi o tempo do império absoluto do Mercado, essa entidade presuntivamente auto-reformável e autocorrectora encarregada pelo imutável destino de preparar e defender para todo o sempre a nossa felicidade pessoal e colectiva, ainda que a realidade se encarregasse de o desmentir a cada hora.


E agora? Irão finalmente acabar os paraísos fiscais e as contas numeradas? Irá ser implacavelmente investigada a origem de gigantescos depósitos bancários, de engenharias financeiras claramente delituosas, de investimentos opacos que, em muitíssimo casos, não são mais que maciças lavagens de dinheiro negro, de dinheiro do narcotráfico?

E já que falamos de delitos… Terão os cidadãos comuns a satisfação de ver julgar e condenar os responsáveis directos do terramoto que está sacudindo as nossas casas, a vida das nossas famílias, o nosso trabalho? Quem resolve o problema dos desempregados (não os contei, mas não duvido de que já sejam milhões) vítimas do crash e que desempregados irão continuar a ser durante meses ou anos, malvivendo de míseros subsídios do Estado enquanto os grandes executivos e administradores de empresas deliberadamente levadas à falência gozam de milhões e milhões de dólares a coberto de contratos blindados que as autoridades fiscais, pagas com o dinheiro dos contribuintes, fingiram ignorar?

E a cumplicidade activa dos governos, quem a apura?

Bush, esse produto maligno da natureza numa das suas piores horas, dirá que o seu plano salvou (salvará?) a economia norte-americana, mas as perguntas a que terá de responder são estas: Não sabia o que se passava nas luxuosas salas de reunião em que até o cinema já nos fez entrar, e não só entrar, como assistir à tomada de decisões criminosas sancionadas por todos os códigos penais do mundo?

Para que lhe serviram a CIA e o FBI, mais as dezenas de outros organismos de segurança nacional que proliferam na mal chamada democracia norte-americana, essa onde um viajante, à entrada do país, terá de entregar ao polícia de turno o seu computador para que ele faça copiar o respectivo disco duro? Não percebeu o senhor Bush que tinha o inimigo em casa, ou, pelo contrário, sabia e não lhe importou?


O que está a passar-se é, em todos os aspectos, um crime contra a humanidade e é desta perspectiva que deveria ser objecto de análise em todos os foros públicos e em todas as consciências. Não estou a exagerar.

Crimes contra a humanidade não são somente os genocídios, os etnocídios, os campos de morte, as torturas, os assassínios selectivos, as fomes deliberadamente provocadas, as poluições maciças, as humilhações como método repressivo da identidade das vítimas.

Crime contra a humanidade é o que os poderes financeiros e económicos dos Estados Unidos, com a cumplicidade efectiva ou tácita do seu governo, friamente perpetraram contra milhões de pessoas em todo o mundo, ameaçadas de perder o dinheiro que ainda lhes resta e depois de, em muitíssimos casos (não duvido de que eles sejam milhões), haverem perdido a sua única e quantas vezes escassa fonte de rendimento, o trabalho.

Os criminosos são conhecidos, têm nomes e apelidos, deslocam-se em limusinas quando vão jogar o golf, e tão seguros de si mesmos que nem sequer pensaram em esconder-se. São fáceis de apanhar. Quem se atreve a levar este gang aos tribunais? Ainda que não o consiga, todos lhe ficaremos agradecidos. Será sinal de que nem tudo está perdido para as pessoas honestas.

Fonte: blog Caderno de Saramago – 19 de outubro de 2008

A miséria moral de vendedores e compradores de votos

Quem vende voto está do lado da miséria moral de quem compra.
A miséria individual de quem vende o voto não exime qualquer da responsabilidade pela miséria social e moral que decorre da venda do voto.
A necessidade individual resolvida por um dia submete em nosso país toda uma comunidade à corrupção e à miséria moral por quatro anos, no mínimo.

Não é novo o método, nem exclusivo daqui, sabe-o bem George W. Bush, que só não perdeu na Suprema Corte deles lá esse segundo mandato que tarda a findar pela arranjada coincidência de, às vésperas, aqueles aviões de carreira desviarem das rotas seqüestrados por gente de fé orientada por ex-amigos e sócios da família Bush - os Bin Laden - ansiosos por encontrar Alá, fanatizados até à auto-imolação.

A educação não está solta no espaço. E não é poção mágica ou panacéia para os males dessa antiga saúva

Ela, como o demais nas sociedades humanas, costuma corresponder aos interesses dos que governam e reproduzir os interesses dos que controlam o poder.

Paulo Freire anotou muito bem que a educação para a liberdade se dá em oposição à exploração e por conscientização e aprendizado em espaço democrático.

A tarefa de libertação é para ser desenvolvida no mínimo em todo o território de um país, sempre alertou Lênin.

E está relacionada objetivamente com o modo de produção existente no lugar, no continente, e no plaenta, sabem bem cubanos, chineses, mesmo coreanos do norte.

E deve considerar os sistemas de conquista e manutenção da hegemonia, completou do cárcere fascista de Mussolini o pensador italiano Antônio Gramsci.

Platão já alertava: os que não fazem a política conformam-se em ser governados pelos que fazem a política.

Um manifesto, um programa, uma estratégia, uma tática bem resolvida e eficaz para as conjunturas, simpatizantes da ação e ações generalizadas vem sendo propostas há pouco mais de 160 anos (o Manifesto Comunista é de 1848) como parte da transformação que necessitam os de baixo. Sempre há o requisitro de que precisam ser legitimadas por pelo menos uma maioria expressiva da população, recordam-nos os exemplos de Chavez e Evo Morales, mesmo a tensão de quatro décadas em que se vê empatada a
Colômbia.

Os de cima têm se safado da extinção enquanto classe dominante e governante com guerras localizadas, crises cíclicas esperadas ou aparentemente inusitadas ou mesmo acordos como o Compromesso, na Itália e pactos como em Moncloa, na Espanha, e algo sem nome, mas similar recentemente no Brasil de Sarney a Fernando Henrique.
Um pouco mudado, é mantido agora com Luís Ignácio.

Nenhuma revolução moral ocorre sem a necessária circunstância, as relações sociais, decorrentes das relações de produção, a lhe sustentar.

Aprender sobre a cultura indígena dqqui e mesmo do norte do continente, ou que eram livres as pessoas escravizadas para cá trazida a ferros desde África é imprescindível para que se saiba que a extinção das nações se dá pela política, pela ganância, pelo colonialismo, na história, e, em nossa época, pelo imperialismo de outras nações ou blocos delas tecnologicamente mais desenvolvidas. ainda que, como acaba de revelar Greenspan, mesmo que equivocadas sobre as verdades que fizeram mais recentemente o mundo cometer por 40 asnos.O colonisalismo sustentou a inferioridade de pessoas em razão da cor da tez da pele, com apoio hegemônico das religiões, até 120 atrás.
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Continuo procurando sem encontrar os narizes empinados dos semid-deuses neoliberais, esses fantasmas que sequer têm correntes para arrastar. Percebe-se, com objetividade palmar, que a história não teve fim, embora esteja mal resolvida a trama que se desenrola contra os produtores em todo o planeta.

10 outubro 2008

Governo gaúcho entrega reserva ambiental de Itapuã ao azar na segunda 13 de outubro

[Publico como recebi]


O contrato de prestadores de serviço no Parque Estadual de Itapuã (Viamão, região Metropolitana de Porto Alegre) se encerra no dia 13 de outubro, próxima segunda-feira. A empresa contratada através de licitação chama-se "Terra e Mar", que reúne profissionais como marceneiros, faxineiros, monitores de visitantes em trilhas no diversos ambientes naturais do parque, etc.

Informalmente, o governo estadual diz que não fará nova licitação porque a unidade de conservação ambiental não apresenta lucro contábil, uma vez que o Estado arrecada cerca de 270 mil reais/ano com o ingresso de milhares de visitantes, especialmente nos meses quentes, e investe cerca de um milhão de reais do orçamento público anual.

O resultado desta drástica decisão do governo Yeda é o seguinte: o Parque Estadual de Itapuã será fechado à visitação pública (agora, de imediato), não irá receber a manutenção permanente necessária e será presa fácil de predadores ambientais e outros malfeitores das raras espécies que apresenta dentro da região Metropolitana. Motivo: unidade ambiental que não dá lucro, só despesa, revelando uma noção de mero cálculo contábil do ambiente natural a ser preservado.

Este é o governo tucano de Yeda Rorato Crusius e seus aliados, o mesmo governo que libera licenças ambientais no afogadilho para projetos que predam o bioma Pampa, como o das papeleiras Aracruz, Stora Enso, Votorantim Celulose, Veracel, e outras.

Foto: Farol de Itapuã, município de Viamão (RS), na cabeceira da laguna dos Patos, um dos locais mais belos do Estado e dos mais ricos em biodiversidade, animal e vegetal.

Redator: Cristóvão Feil