27 maio 2008

O mundo da fantasia do pai dos laranjas



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O depoimento de Lair Ferst à CPI, ocorrido nesta segunda-feira (26/05/2008), foi precedido por uma forte estratégia de marketing pessoal.
Há seis meses sem falar com a imprensa, Ferst dedicou o domingo e parte da segunda-feira antes do início de seus depoimento para conversar amistosamente com profissionais escalados a dedo nos veículos de comunicação da RBS, a maior beneficiária das verbas de publicidade do atual governo gúcho.

Nas entrevistas ao jornal Zero Hora, à Rádio Gaúcha e ao Jornal do Almoço, o lobista antecipou qual seria sua postura na CPI. Negou tudo, de nada sabia.
Chegou a receber elogios jornalista Lasier Martins: “é um homem muito bem preparado”, comentou o advogado.

Pivô e um dos maiores beneficiários da fraude que desviou mais de R$ 44 milhões da autarquia, Lair contestou todas as acusações que pesam sobre ele. Mas a segurança demonstrada no início da audiência não resistiu aos questionamentos dos deputados. No decorrer do depoimento, as contradições apareceram:

A indicação da Fatec

O ex-presidente do Detran, Carlos Ubiratan dos Santos, disse que a Fatec foi contratada porque foi a única que preencheu os requisitos. Agora, Lair Ferst admitiu que indicou a Fatec para Carlos Ubiratan, seu amigo há mais de 30 anos. Depois de sugerir que o Detran contratasse a fundação, Lair virou funcionário da Fatec. Ele também admitiu que indicou as empresas Newmark Tecnologia e Rio Del Sur, de propriedade da sua família, para trabalhar para a Fatec. Alguém está mentindo.

A relação com Chico Fraga

Diferente do que afirmou duas vezes à CPI o ex-secretário-executivo da Fatec, Silvestre Selhorst, Lair Ferst negou que o secretário-geral de Governo da prefeitura de Canoas, Chico Fraga, tenha intercedido a seu favor quando o contrato do Detran com a Fatec foi rompido e a Fundae assumiu. Nesta troca, as empresas dos Ferst foram excluídas. Selhorst sustenta que Chico Fraga tentou negociar uma compensação para Lair Ferst que giraria em torno de R$ 120 mil por mês, isto é, 6% do valor do contrato entre a Fundae e o Detran. De novo, alguém mente.

A militância no PSDB

Lair disse que era um militante de base do PSDB. Entretanto, foi coordenador da bancada tucana na Assembléia, indicou um prédio para abrigar o comitê de campanha de Yeda Crusius e assinou como testemunha do contrato de locação do imóvel. Lair Ferst também admitiu que uma sala alugada pela Newmark foi usada para reuniões da chapa encabeçada pela deputada Zila Breitenbach para o diretório do PSDB. Desta chapa, que foi vitoriosa, também participou a governadora.

O chope com Culau

Contrariando Ariosto Culau, que negou ter tratado do caso Detran enquanto tomavam um chope, Ferst disse que o ex-secretário falou “que estava livre da força-tarefa dos contratos”. Ou seja, o assunto foi falado.

As empresas da família

Lair negou ser o verdadeiro dono das empresas Newmark Tecnologia e Rio del Sur e disse que tinha apenas uma “procuraçãozinha” destas empresas. O presidente da CPI, Fabiano Pereira, leu o teor do documento. “Representar, gerir e administrar todos os negócios, como comprar e vender mercadorias, comprar imóveis, pagar e receber contas, admitir e demitir funcionários, representar as empresas perante os bancos e contas correntes, representar as empresas diante todos os órgãos municipais, estaduais e federais, receber correspondências, assinar requerimentos e duplicatas.”.

Escancarado

“Não há dúvidas de que Lair Ferst foi um dos principais articuladores do esquema criminoso que agiu a partir do Detran. Só as empresas da sua família ganharam cerca de R$ 21 milhões. Isto é, dos 44 milhões desviados do Detran, metade foi destinada às empresas Ferst. E o Ministério Público de Contas concluiu que eles receberam estes milhões por um trabalho fantasma, que inexistiu”, apontou Fabiano Pereira.

Conforme a deputada Stela Farias, o movimento financeiro das empresas Ferst também atesta que Newmark e a Rio del Sur foram criadas exclusivamente para escoar a propina. Os laranjas Rosana Ferst, Elci Ferst e Alfredo Telles, respectivamente irmãs e cunhado de Lair Ferst, movimentaram somente 10% do total que ingressou nas contas. O resto, segundo a Polícia Federal e o MP, foi usado para distribuir a propina para os integrantes da quadrilha. “Além disso, Lair Ferst teve despesas pessoais, como viagens, planos de saúde, supermercado, veículos e cartão de crédito, pagas pela Rio del Sur, que também fez doação em dinheiro”, revela Stela Farias. Aliás, Chico Fraga e o prefeito de Canoas, Marcos Ronchetti, também fizeram turismo às custas da Rio del Sur.


Deputados aprovam prorrogação por 30 dias

A CPI do Detran aprovou por unanimidade o pedido de prorrogação dos trabalhos por 30 dias. A solicitação, agora, será encaminhada ao plenário da Assembléia Legislativa, que deverá ratificar o pedido da comissão.

Depois, a patrola vergonhosa

Após aprovarem o pedido para prorrogação dos trabalhos da CPI por 30 dias, os deputados que compõem a base do governo barraram a convocação de todos os nomes sugeridos pelo ex-secretário de Segurança, Enio Bacci, para depor na CPI.
Foram rejeitados os requerimentos para convocação do ex-corregedor do Detran, delegado João Carlos Weber; do ex-presidente da CEEE, Wilson Cignachi; do ex-cunhado do deputado José Otávio Germano, Leonardo Elesbão; e do ex-assessor do PP, Carlos Dirnei Fogaça.
A base de Yeda ainda negou a convocação do secretário-geral de Governo, Delson Martini, do ex-diretor do Detran, João Batista Hoffmeister, e do atual presidente da Fateciens – Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência, antiga Fatec.

Mais uma contradição

Para o deputado Elvino Bohn Gass, o comportamento da base do governo é contraditório. "Eles criticam a CPI e dizem que não houve avanços em relação às investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. Mas quando queremos ampliar o trabalho, eles votam contra", afirmou Bohn Gass.

A deputada Stela Farias vai além. Ela entende que a prorrogação da CPI por mais 30 dias foi encarada pelos deputados da base governista como um pacote; eles aceitaram aumentar o prazo para os trabalhos da comissão, mas rejeitaram todos os requerimentos propondo que a CPI ouça novas testemunhas.

Presença de Fraga em reunião da propina é confirmada

Era para ser uma acareação, mas só o ex-secretário-executivo da Fatec, Silvestre Selhorst, compareceu à audiência da CPI na última quarta-feira (21/5). Apesar da ausência de Luiz Carlos Pelegrini, ex-presidente da Fatec, e Chico Fraga, secretário-geral de Governo de Canoas, Selhorst confirmou o que já tinha dito em seu primeiro depoimento à CPI: em reunião no dia 9 de maio de 2007, na Assembléia Legislativa, Chico Fraga se apresentou como interlocutor do governo estadual para tratar dos interesses de Lair Ferst, que estaria, naquele momento, sendo excluído do esquema que fraudava o Detran.

Buti é encurralado

Apesar de possuir um gabinete dentro do escritório de Carlos Dahlem da Rosa, um dos denunciados pelo MP como participante da fraude do Detran, o advogado Luiz Paulo Germano, irmão do deputado federal do PP gaúcho, José Otávio Germano, negou participação no esquema e sustentou que jamais teve sociedade com Carlos Rosa em seu escritório de advocacia. Buti, como é conhecido, negou, também, que tenha tido participação no contrato que Rosa mantinha com a Fatec e que rendeu para seu escritório R$ 5 milhões.

A deputada Stela Farias não acreditou na versão de Buti e apresentou uma folha do escritório em que constava o nome de Luiz Paulo entre os advogados societários. Ela mostrou, ainda, informações da página da OAB na internet em que o advogado indica o mesmo número de telefone do escritório de Carlos Rosa.

Stela apresentou outras informações com base nos documentos recebidos do Ministério Público Federal, que vinculam o advogado ao esquema fraudulento. Conforme o MPF, Luiz Paulo viajou em conjunto com outros denunciados para Goiânia e Brasília com as despesas pagas pelo projeto Trabalhando pela Vida, da Fatec. Ainda de acordo com o MPF, o advogado era um importante auxiliar de Flávio Vaz Neto na articulação dos contratos com a Fundae e as sistemistas e um interlocutor com quem o ex-presidente da autarquia compartilhava a elaboração das estratégias do esquema.



“Gostaria de saber quais são as empresas onde Lair Ferst
trabalha como consultor, recebendo R$ 15 mil por mês.
Afinal, ele já levou empreendimentos à falência e, segundo
José Fernandes, seu ex-parceiro no esquema Detran,
foi demitido da Fatec por incompetência”.
- Deputado Fabiano Pereira (PT), comentando a atual ocupação do indigitado.

publicado em http://deolhonafraude.blogspot.com

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