06 setembro 2010

Segurança de Yeda, preso por extorsão, espionou senador, ministro e policiais

O sargento César Rodrigues de Carvalho, lotado na Casa Militar do governo gaúcho, foi preso nesta sexta-feira acusado de extorsão e cobrança de propina de contraventores do setor de caça-níqueis e bingos. Segundo Ministério Público, sargento era segurança da governadora Yeda Crusius e utilizou carros oficiais do governo para efetuar a cobrança de propinas. Além disso, ele teve acesso ao sistema integrado de consultas da Secretaria de Segurança e espionou a vida de um senador, um ministro, políticos e delegados de polícia. O Ministério Público mantém os nomes dos políticos espionados em sigilo.

Marco Aurélio Weissheimer


O sargento César Rodrigues de Carvalho, preso nesta sexta-feira, em Porto Alegre, acusado de extorsão a bingos e violação de dados sigilosos de políticos e autoridades, utilizou diversas vezes carros do governo estadual para cobrar propinas de ao menos um proprietário de máquinas caça-níqueis em Canoas. A revelação foi feita hoje à tarde pelo promotor de Justiça Amílcar Macedo, durante entrevista coletiva em Canoas. O sargento estava lotado na Casa Militar do Palácio Piratini e foi preso pela manhã por corrupção e extorsão a contraventor de máquinas de caça-níqueis. Segundo o promotor, o sargento estava tentando obstruir a investigação sobre ele acessando dados sigilosos dos investigadores e outras autoridades.



A investigação iniciou há cerca de três meses quando a promotoria de Canoas recebeu a informação de que um contraventor de máquinas de caça-níqueis estaria sendo extorquido por um brigadiano lotado na Casa Militar do Palácio Piratini. Segundo a promotoria apurou, o recolhimento de propinas ocorria sempre após às 22 horas e vinha ocorrendo há cerca de dois anos. O sargento, disse o promotor, utilizava veículos oficiais da Casa Militar do governo do Estado destinados a fazer a segurança da governadora Yeda Crusius. Ainda segundo Amílcar Macedo, o sargento era um agente de inteligência que foi selecionado por critérios obscuros para trabalhar no Palácio. Presente à coletiva, o ex-ouvidor da Segurança Pública do Estado, Adão Paiani, disse que a governadora e outras autoridades do governo estadual foram advertidas em 2008 a não admitir o sargento no Palácio.



Na conversa com os jornalistas, o promotor Amílcar Macedo disse que ainda não sabe bem a mando de quem o sargento agia, mas não acredita que fosse uma atitude individual isolada. Macedo manifestou surpresa com a decisão do governo estadual de exonerar o sargento da Casa Militar e transferi-lo para a Secretaria da Segurança Pública. O Diário Oficial da última terça-feira (31) publica a exoneração da Casa Militar e, ao mesmo tempo, a concessão de uma FG 10, uma alta função gratificada, que pertencia a um coronel, transferido da Secretaria da Segurança para a Assembléia. Indagado sobre o que ele fazia na Casa Militar, o promotor respondeu: “Num primeiro momento nos informaram que ele era um agente de inteligência. Pelo que descobrimos ao longo da investigação, ele estava trabalhando, de fato, na segurança da governadora e tinha carros da Casa Militar à sua disposição”.



Espionou senador, ministro e delegado de polícia



César Rodrigues de Carvalho utilizou-se de senhas do sistema de Segurança do Estado para espionar a vida de políticos, delegados de polícia e outras autoridades gaúchas. O promotor Amílcar Macedo que revelou que, em apenas um intervalo de uma semana, o brigadiano fez mais de 1.200 “pesquisas” em todos os horários imagináveis. Para isso, se utilizava de computadores dentro do Palácio Piratini e também em sua residência. Entre outros, ele espionou a vida de um senador da República, de um ex-ministro de Estado (que não são do mesmo partido, assegurou o promotor), do chefe de inteligência do V Comando Aéreo de Canoas, de delegados de polícia e, mais recentemente, dos investigadores que estavam investigando-no. Ele também realizou pesquisas sobre endereços e veículos de diretórios municipais de um partido político do Estado. Amílcar Macedo prefere não revelar nomes por enquanto.



No terreno da cobrança de propinas do setor de bingos e caça-níqueis, a promotoria tem informações de que há outros empresários do ramo que também estavam sendo extorquidos. As “pesquisas” que o sargento realizava no sistema integrado de consultas da Secretaria de Segurança eram utilizadas também, segundo a promotoria, para avisar pessoas sobre operações da Brigada Militar, sobre mandados de prisão que seriam executados. “Ele tinha acesso inclusive a processos judiciais e a investigações em curso no Ministério Público. Além disso estava acessando dados sobre diretórios de um partido político e seus veículos. Não consigo entender que tipo de perigo ou ameaça à governadora poderia justificar o acesso a esses dados”, observou Macedo.



O promotor não quis adiantar conclusões quanto à destinação do dinheiro arrecadado na cobrança de propina (somente de um contraventor foram de 5 a 6 mil mensais durante um período de aproximadamente dois anos). Segundo o testemunho desse contraventor, o sargento dizia que o dinheiro era “para ele e para seus chefes”. “Não tenho elementos de convicção para falar sobre o destino do dinheiro. O que posso dizer é que há outras pessoas vinculadas a campanhas políticas de alguns candidatos que têm relações com esse sargento”, afirmou. Além disso, acrescentou, outras pessoas também estariam cobrando propinas no setor de caça-níqueis em um esquema similar ao operado pelo sargento. O Ministério Público tem vídeos da cobrança destas propinas. As imagens estão sendo periciadas e serão divulgadas após a perícia, garantiu o promotor.

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