28 outubro 2007

A arte revela a face conhecida para ser desvelada



Viu o filme Tropa de Elite? (1)

Um filme pode ser a reprodução do real, simplesmente. É ai que entra a genialidade – mostrar aquilo que um modelo de sociedade avestruz não quer ver e assumir.

Sei, o BOPE é a violência do Estado em seu estado absoluto. Sei, mas o que acontece no Rio não é o resultado da ausência do Estado via saúde, escola, serviços e até segurança? O Estado esteve presente por mais de 500 anos neste país para proteger os proprietários de algo. Isto resultou em quê? Em milhões sem nada ou quase nada. Sobreviver eles precisavam.

A ironia é que os mesmos que gozavam da segurança do Estado – A elite - passaram a consumir a matéria-prima que passou a sustentar a miséria que o Estado não retirou da miséria, ou o Estado não é pra isto? (3)

Assim é a Guerra: o resultado inevitável da acumulação de uns contra os outros. Quando o resultado esta posto e atrapalhando aí o jeito é enfrentar a guerra do jeito que ela é: violenta.
Lamento, mas Freira na Zona não converterá a totalidade.

Sei. Dirão muitos que a forma de reverter tudo isto é educar e viabilizar social e economicamente. Esta é a boa notícia, já estamos fazendo isto com mais de 15% da população que estava abaixo da linha da miséria saíram, só em 2006.

E o lado ruim? É que 500 anos de destruição de um povo não se muda em 8 anos. Enquanto isso o BOPE é uma outra frente para minimizar a ausência do Estado ou o Estado que se acostumou a lucrar com os dois lados – a corrupção.

Fico pensando na Lei da oferta e procura – tem produção de droga porque há consumo de droga. Lei bem antiga que inclusive foi aprimorada pelos Ingleses. Dizia Marx:
“Quaisquer que sejam as causas que têm determinado as revoltas crônicas destes últimos dez anos na China, revoltas que hoje estão confluindo para uma gigantesca convulsão, qualquer que seja a forma que esta venha a revestir - religiosa, dinástica ou nacional - ninguém duvida que o seu motor são os canhões ingleses, que impõem à China a droga suporífera chamada ópio”. Artigo publicado no New York Daily Tribune de 14 de Julho de 1853. (Ver 2)

Exatamente, quando o mundo capitalista não conseguia equilibrar a balança comercial com a China, a Inglaterra procurou popularizar uma droga usada em cerimônias religiosas na China onde apenas o sacerdote usava o ópio (como os Padres com o Vinho) e passou a realizar sua comercialização plantando em países vizinhos. A assim obtiveram lucro já que para a China no século XVI e XVII, não tinha nenhum interesse econômico nos bárbaros europeus.
Conclusões antigas: os ingleses são os primeiros grandes traficantes; quando não há mercado por não haver necessidade do consumo de algo, se cria mercado e necessidade; o que importa é o consumo ainda que isto represente a destruição de pessoas.


Novas conclusões: quando o Estado se ausenta da função melhoria das condições da população e de enfrentamento dos desvios e atalhos da burocracia o crime organizado assume a dianteira seja dentro ou fora do aparelho de Estado.
Então, enquanto não houver solução pacífica imediata e de curto prazo – as que conhecemos são de longo prazo – o BOPE será uma realidade tão dura e cruel quanto o crime sustentado pela própria sociedade.

(1) “Viu o filme Tropa de Elite? A repercussão sobre ele está violenta, tanto quanto o filme. Mas o que me deixa triste, é ver que invariavelmente as pessoas correm para tomar posições mais fáceis. "A Culpa é do Traficante", "A culpa é do Playboy consumidor", "A culpa é do sistema". Todos têm sua parcela de responsabilidade e interesse. Tem gente usando as teorias de comunicação massiva da escola de Frankfurt, pra justificar se o filme é o não é fascista. Olha pra que caminhos essa gente vai? Ao invés de pensar na construção de uma obra de ficção que chama o debate para o real...” Autor conhecido e querido!



(2) “Em meados do século XIX a Inglaterra era a potência européia mais desenvolvida. Por isso exigia, para a colocação de seus produtos, mercados cada vez maiores. A China e a Índia, extremamente populosas, exerciam forte atração sobre os mercadores ingleses. Mas enquanto a Índia comerciava abertamente, a China não demonstrava interesse algum pelas mercadorias européias. Os produtos chineses, tais como a seda, o chá e a porcelana alcançavam bons preços na Europa, mas os produtos europeus não conseguiam entrar no mercado chinês. Esse comércio era pouco rendoso para a Inglaterra. Apenas um produto interessava particularmente aos chineses: o ópio, narcótico extraído da papoula, que produz efeito adormecedor sobre cérebro. Os ingleses cultivavam o ópio na Índia e vendia-o em grandes quantidades na China. Entre 1811 e 1821, o volume anual de importação de ópio na China girava em torno de 4.500 pacotes de 15 quilos cada um. Esta quantidade quadruplicou até 1835 e, quatro anos mais tarde, chegou a ponto de o país importar 450 toneladas, ou seja, um grama para cada um dos 450 milhões de habitantes da China na época”.



(3) Uma pesquisa divulgada na tarde desta terça-feira pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que 62% dos consumidores declarados de drogas no País pertencem à classe A.Este segmento representa apenas 5,8% da população brasileira. O estudo mostra ainda que 85% dos usuários são brancos, grupo que compõe 53% da população total no Brasil. Os dados levantados indicam que 86% dos consumidores declarados de drogas têm entre 10 anos e 29 anos. Entre os pesquisados que se declararam usuários de drogas, 99% pertencem ao sexo masculino. O estudo mostra ainda que 30% dos usuários freqüentam a universidade, contra apenas 4% da população brasileira. A maioria dos usuários declarados de drogas, no entanto, freqüentam o Ensino Médio (54%). A pesquisa "O Estado da Juventude: drogas, prisões e acidentes" utilizou como instrumento a pesquisa mais atualizada de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a FGV, o dado de quem se declara consumidor declarado de drogas deve ser interpretado como resultado da interação entre as despesas com drogas e a propensão a declará-la. O estudo da Fundação Getulio Vargas levou em conta quatro tipos de droga: maconha, cigarros de maconha, lança-perfume e cocaína.

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