11 dezembro 2006

PARTICIPAÇÃO POPULAR: MUDANÇA DE ESTRATÉGIA

Em meados da década de 70 do século XX, a esquerda brasileira renunciou a uma estratégia de luta armada depois de sofrermos uma derrota incontestável na região do Araguaia onde hoje é o Estado de Tocantins[1].

Mudei a pessoa do tempo verbal porque mesmo aos 15 anos me sentia já um herdeiro dos sonhos, dos erros e acertos daquilo que convencionamos chamar esquerda brasileira.
Na virada da década de 70 a estratégia estava centrada na luta popular, na capacidade que a população civil tinha de reivindicar seus direitos de forma aberta, não nas matas, mas armados da força coletiva, com instrumentos como a greve, movidas pela força das massas excluídas dos direitos, dos salários, dos empregos. Nas cidades que ruíam em favelas, abrigava-se a massa de não assalariados, o tal exército desarmado chamado de "INDUSTRIAL DE RESERVA" que pressionava os salários para baixo.

Saímos de uma visão de guerrilha – o foquismo – para uma visão de crescente disputa social e política, de enfrentamento aberto, mas sem armas. Uma nova visão embasava a esquerda: não há transformação sem um nível mais alto de consciência das massas. Essa consciência não chegaria pela forças das armas de valorosos 69 sonhadores e voluntariosos guerrilheiros. Ela só viria do interior de cada indivíduo em movimento de luta coorporativa ou não, desvelando os verdadeiros inimigos do povo – um grato aprendizado com Paulo Freire - e apoiados pelos seus intelectuais orgânicos. Nesse período não bastava fazer Greve ou ser parte das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), o desejo de ser governo para decidir e inverter prioridades tomava conta dos humildes operários.



[1] A prova da morte de Grabois, em 73 - (O Estado de São Paulo - São Paulo - 10/10/82, pag. 26) "O general Hugo Abreu conceituou a guerrilha do Araguaia como 'o mais importante movimento armado já ocorrido no Brasil rural', se comparada com as guerrilhas de Caparaó, do Vale da Ribeira, no sertão baiano e o movimento de Jefferson Cardim. Ao Sul do Pará, a guerrilha se desenvolveu entre 1966/67, com a chegada dos primeiros militantes do PC do B, até 1973, quando foi aniquilada pelas Forças Armadas com a morte de seus principais líderes e integrantes – a maioria jovens universitários, com 25 anos de idade. Não constam baixas fatais do lado das forças legais. (...) A guerrilha se desenvolveu numa imensa área praticamente riscada do mapa tal o abandono em que vivia, por falta de assistência governamental. Os estranhos foram aparecendo e se chegando à população, que era carente de tudo. E em pouco tempo foram ganhando simpatia dos moradores pela assistência que passaram a lhes prestar. As Forças Armadas não dispunham de nenhuma organização militar de vulto nas proximidades do local escolhido pelos guerrilheiros. A descoberta da guerrilha ocorreu com a prisão de um deles na capital cearense. E somente a partir de abril de 1972 o governo deslocou milhares de homens para a selva para combater os inimigos. As tropas legais se apresentaram de maneira convencional – fardadas até – e a missão no início resultou em fracasso. Depois, com a utilização de pára-quedistas, com o apoio aéreo e de gente do lugar, os integrantes da Forga ou Fogueira foram sendo encurralados e esmagados, numa operação que durou até janeiro de 1975. (...) Para esse combatente, o apoio aéreo da FAB foi fundamental e decisivo no esmagamento da guerrilha do Araguaia: - Estrategicamente, parece que a escolha do local não foi muito adequada, como ficou patente posteriormente no desenrolar das ações de aniquilamento. É importante caracterizar também a participação de religiosos da Igreja 'progressista', que ultimamente foram envolvidos em processos e condenados pela Justiça Militar."

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