10 novembro 2006

IMPRENSA, EXPRESSÃO, ESTADO E RIDÍCULO

Este título parece absurdo. Gostaria que fosse, mas é perfeitamente possível. Quando penso em ridículo logo me vem Arnaldo Jabor, para mim é uma figura fantástica, no lugar errado. Jabor deveria ser parte da equipe brilhante do Casseta & Planeta, claro que por mais brilhante nunca vai superar o Bussunda.

Mas o Jabor aparece comentando no Rádio e TV, aí está o ridículo. Liberdade de Imprensa por colocar um cidadão deste tipo para comentar o que não sabe e finge que sabe, liberdade de expressão porque seja ele quem for tem todo o direito de dizer o que pensa, mas o ridículo é inevitável.

Hoje pela manhã, como de costume, o centro foi o PT, para não ficar muito na vista as suas posições neutras sobre política, ele passa antes na vida do povo venezuelano, aborda Hugo Chávez, quando também não passa ali em Havana, Cuba para destilar seu ódio à esquerda Brasileira. Mas sempre ridículo, isso é sempre.

O tema foi o Natal na Venezuela, criticou Hugo Chávez, o Presidente venezuelano, porque, segundo Jabor – o cara que tudo sabe – é contra o Papai Noel porque que é norte-americano.

O fato é que Jabor sabe bem pouco, pois o Estado Venezuelano, dono de seu papel, via Hugo Chávez definiu que vai incentivar a comemoração do Natal com as tradições do país e com ornamentação locais nos aparelhos de Estado. Nunca foi dito que isso era para combater os norte-americanos.

Eu comemoro o Natal com minha família há décadas; lá o Papai Noel passa de pai para filho – inclusive eu mesmo sou o Papai Noel - há mais de 7 décadas; sempre tivemos um pinheiro com bolas vermelhas – e nem havia o PT na época, viu Jabor – com decoração de neve; e nunca achamos que isso tinha algo com os norte-americanos.

No entanto o centro desta comemoração não é isso, é uma festa religiosa e como tal os símbolos são outros.

Por isso está certíssimo o Hugo Chávez, o Estado é laico e como tal deve usar uma simbologia adequada ao país cujo o povo comemora uma festa anual, mas sem simbologia religiosa.

Errado Jabor, veja que a crítica já esta distorcida na origem, afinal o motivo é plenamente adequado:

  1. vivemos na América Latina e o Natal, comemorando internacionalmente em dezembro quando temos altas temperaturas e não neve como é na Europa, de onde vem a tradição do Papai Noel e do Pinheiro carregado de neve.
  2. Venezuela fica na Amazônia com vegetação tipicamente diferente da Européia onde prevalece o pinheiro nesta época do ano por razões naturais;
  3. o Natal não tem relação direta com Papai Noel e nem com pinheiros e sim com a comemoração do nascimento de Jesus Cristo que, pelo que sabemos, possivelmente nem foi em dezembro pela diferença do calendário usado há mais de 2006 atrás.

Mas o mais importante não é isso, o Estado tem papel, isto é, estimular aquilo que é da cultural de seu povo por razões econômicas e culturais.

Vejam o exemplo de Burkina Fasso, antigo Alto Volta até 1984, é um país africano limitado a oeste e a norte pelo Mali, a leste pelo Níger, e a sul pelo Benin, pelo Togo, por Gana e pela Costa do Marfim, onde tive a oportunidade profissional de visitar sua capital chamada de Ouagadougou em 1989. Lá um de seus Presidentes Socialistas Thomas Sankara, em 1987, muito querido pela população em toda África, foi assassinado quando o país sofreu um golpe de Estado. O curioso é que o Golpe neste Governo recebeu apoio do funcionalismo público – a maior categoria do país – porque havia grande descontentamento com uma das medidas do Presidente: proibiu o uso de terno e gravata para os funcionários públicos. Parece ridículo? Sim, só parece, mas uma decisão inteligente, primeiro porque a jovem nação nascida em 1960 precisava recuperar suas raízes culturais e seus costumes. Ora, terno e gravata é vestuário europeu, justamente de quem haviam se libertado, algo que foi imposto como roupa pela nação européia que ocupou este território por muitos anos.

Segundo, e mais importante ainda, a roupa européia era importada e a fabricação da roupa tradicional de Burkina Fasso era (e ainda é) a principal atividade econômica do país.

Logo, nada mais adequado para o Estado interferir na recuperação das tradições locais e, ao mesmo tempo, alavancar importante atividade industrial em uma região com poucas alternativas.

Ou alguém acha que está correto alimentar tradições norte-americanas como rodeio e Cowboy no Brasil? A Rede Globo faz isso, acha que música sertaneja, rodeio e cowboy é coisa de Brasileiro.

Por isso, Liberdade de Imprensa tem limites, a liberdade de expressão pode cair no ridículo, caro Jabor e o Estado precisa incentivar a cultura dos povos, as atividades econômicas possíveis e não cultuar o estragerismo para agradar a elite que vive voltada para o que é de fora.

Aguardo a contratação de Arnaldo Jabor pelo Casseta & Planeta para tira-lo do ridículo e de lá ele poderá dar parabéns ao Hugo Chávez!

Coisas da Política!

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