09 novembro 2006

Imprensa substitui a justiça?

Na década de 70 havia uma piadinha muito marota que circulava entre os adolescentes pré-subversivos. Contava a piada que no encontro entre a Comitiva Presidencial Boliviana e Brasileira, depois das apresentações, o Presidente Brasileiro (ia trocando o nome conforme o Presidente Militar da época) ficou curioso e pergunto ao seu colega Boliviano:

- Presidente, porque em seu País há Ministro da Marinha, não há fronteira com o Oceano Pacífico na Bolívia.

Então, num tom crítico o Presidente respondeu:

- Ora Presidente, em seu país não tem Justiça e há Ministro da Justiça.

O Brasil mudou muito, embora a justiça brasileira ainda é lenta, mas ela já não é mais um apêndice do Governo e tão pouco do Estado Brasileiro. Ela tem cara própria e age com independência.

Mas uma outra coisa mudou: temos imprensa livre. Isso é muito bom, no entanto ela re-surgiu em 1964 (a data não é por acaso) dentro do “padrão” dos EUA. Estou falando da GLOBO e suas afiliadas, no que se refere ao padrão televisivo, jornalístico e de marketing. Copiou também um outro elemento: a pretensão de substituir a justiça brasileira e inovou, transformou-se no maior Partido Político do país.

Poderia dar muitos exemplos, mas alguns me parecem emblemáticos, suficientes para dar uma idéias do que representa a tal liberdade de imprensa quando ela não assume com responsabilidade o seu verdadeiro papel: permitir à sociedade, no debate aberto, optar pelas melhores posturas e nisso permitir que cada indivíduo constitua sua própria opinião e, assim sendo, a cidadania passa a ser instrumento poderoso no controle e ordenamento das ações das autoridades de Estado.

Em 1989 Collor saiu do nada, apoiado pela imprensa como o símbolo do novo, moderno e capaz para fazer frente à vitória inevitável de Lula.

Em 1992 a imprensa condenou Collor que não foi condenado pela justiça até hoje. Houve um julgamento político dele, assim como houve um julgamento político do ex-ministro José Dirceu que foi condenado em plenário por tramar a permanência do PT por mais 20 anos. Absurdo, qual o político que não pretende que seu partido permaneça no poder por décadas? Aliás, quantos anos o Maciel permaneceu no poder como vice?

Em 1994, em plena campanha eleitoral, a imprensa brasileira, principalmente o veículo Jornal Zero Hora de Porto Alegre com 58 reportagens, com a publicação de inúmeras matérias acusando o então Senador José Paulo Bisol de ter manipulado verbas do orçamento para beneficiar sua fazenda. Bisol naquele momento era candidato a vice-presidente da República pelo PSB na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O impacto foi tão forte que o Senador abandonou a campanha e Mercadante, hoje Senador, assumiu a vice em seu lugar. Nada mais se podia fazer, afinal se a imprensa disse é por que é, assim ela se coloca, assim ela é vista. Resultado: Bisol havia sido acusado e ao mesmo tempo julgado e sua vida arruinada.

Nada foi provado, ao contrário, Bisol entro com uma “ação de indenização por danos morais, sustentando que as reportagens provocaram prejuízos ‘irreparáveis’ à sua imagem”, como afirmou o Jornal Folha de São Paulo em 14/02/2001. A Zero Hora foi condenada à pagar indenização de R$ 1,191 milhão, mas de longe, incapaz de compensar danos a um jurista brilhante em plena ascensão política.

Quem sabe disso, depois de cinco anos da condenação do Jornal Zero Hora? Quantos dias foram suficientes para aniquilar a carreira de um homem inocente? E agora, quantos anos serão necessários para restabelecer a imagem dele?

Quem deu este poder à Liberdade de Imprensa?

Em 2001 os colunistas Rogério Mendeslki e José Barrionuevo, ambos do Jornal Zero Hora, estavam para serem condenados, o primeiro a pagar 20 salários mínimos para cada um dos processantes por declarações caluniosas, e o segundo a uma pena de 2 anos e 4 meses em função da acusação de que o Guaracy Cunha seria o "Goebels" do Governo do Estado. Mas creio que em nome da "liberdade de imprensa" isso nunca mais foi divulgado, nem mesmo agora tenho informações para saber o desfecho de mais uma acusação e condenação substituindo a justiça brasileira.

Em 20 de novembro de 2001, pouco menos de um ano para as eleições, publicado em http://www.mail-archive.com/policia-br@grupos.com.br/msg04068.html acessado por mim em 08/11/2006, há uma mensagem de Edison Tessele - Agente de Polícia Federal, explicando, sem entrar no mérito dos temas, a postura da RBS no Rio Grande do Sul em relação ao PT, neste período, governando o Estado desde 1999. Diz ele:

(...) “Para quem não sabe, o grupo RBS, dono da TV e rádio Gaúcha e dos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, tem uma longa história de confrontos com o PT no RS, o que vai facilitar o entendimento do porquê dessa sanha avassaladora da RBS em atacar o Governo Estadual.

(...)

1. O José Barrionuevo, há alguns anos atrás, trabalhou na assessoria de imprensa da Assembléia Legislativa, quando esta era presidida, salvo engano, pelo PMDB. O atual Chefe da Casa Civil, Flávio Koutzi, à época já era deputado estadual e denunciou a existência de funcionários fantasmas na AL gaúcha. Um desses FANTASMAS "trabalhava" na Assessoria de Imprensa da AL e chamava-se JOSÉ BARRIONUEVO e foi exonerado, pois somente recebia o salário sem a devida contraprestação do seu trabalho. Hoje, ao lado do ROGÉRIO MENDELSKY, também da RBS, é o verdadeiro LÍDER DA OPOSIÇÃO ao Governo. Sobre o Mendelsky eu também sei de um fato ocorrido na primeira administração do do PT em P. Alegre, quando Olívio era prefeito, a qual contrariou interesse pessoal desse jornalista, justificando plenamente a sua oposição figadal ao PT. Entretanto, por não ter autorização da pessoa que presenciou o ocorrido, vou calar.

2. O secretário da Justiça, José Paulo Bisol, passou a ser alvo de críticas ferozes da RBS, porque ganhou uma ação milionária contra a empresa, da qual foi funcionário por muitos anos. A Zero Hora, quando o Bisol foi candidato vice do Lula, em 94, foi vítima de reportagens caluniosas e difamatórias, publicadas pela ZH. Entrou na justiça e ganhou em primeira instância, no TJ/RS e no STJ. Transitou em julgado a sentença e a RBS foi condenada a pagar 1.200 salários mínimos a Bisol, a maior indenização por danos morais imposta pela justiça brasileira.

3. Por último, há a questão financeira. O grupo RBS era o escoadouro das verbas publicitárias do Governo do RS, durante a gestão de Antonio Britto. Só no último ano de administração, em 1998, quando candidatou-se à reeleição, Britto gastou uma fábula em publicidade, R$ 70 MILHÕES, dos quais aproximadamente 2/3, ou quase R$ 50 MILHÕES foram despejados na RBS. Isso mesmo, 2/3 para a RBS e o 1/3 restante para todos os demais veículos de imprensa do RS. Um fato ocorrido durante a campanha de 98 abalou financeiramente a RBS: o grupo espanhol Telefônica, que adquiriu a CRT tendo como parceira minoritária a RBS, deu um balão nos Sirotsky quando da compra da Telesp, pois estava concorrendo contra o consórcio RBS/GLOBO. Ganhou a Telesp e a RBS sifu, pois a Telesp teve que sair da CRT, a RBS se lascou na parceria com a Globo e sobrou ainda um papagaio de alguns milhões de dólares para quitar até o final de 98, decorrente de dinheiro tomado para comprar 6% da CRT, cujo pagamento naquele momento não estava nos plano da empresa. Comentou-se inclusive que a RBS teria solicitado auto-falência, às vésperas da eleição de 98, mas a justiça gaúcha negou o pedido. Bom aí o Olívio ganhou do Britto e o resto vocês deduzem: o governo reduziu drasticamente os recursos para propaganda, a partir de 1999, e além disso, democratizou publicidade, divulgando-a de forma mais equânime ENTRE TODA A IMPRENSA GAÚCHA, de formas que SECOU A FONTE DE DINHEIRO DA RBS JUNTO AO GOVERNO ESTADUAL.”

(...)

Logo, não preciso dizer que o PT foi derrotado na eleição para o Governo do Estado em 2002 no segundo turno, em Porto Alegre em 2004 no segundo turno, depois de 16 anos governando a cidade, agora em 2006 na eleição para o Governo do Estado no segundo turno.

Como a imprensa comportou-se? Como sempre, tomando partido, agindo como partido, mesmo que nada e ninguém no Rio Grande do Sul tenha sido envolvido em qualquer denuncia apontada pela imprensa.

A Liberdade de Imprensa não pode ser usada para condenar alguém, em nenhuma situação.

Coisas da Política!

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