04 novembro 2006

Novo perfil: Os desvios do Pragmatismo e do Programatismo

Chegamos ao Século XXI com grandes vitórias, coroadas recentemente com o segundo mandato de Lula com resultados econômicos e sociais impressionantes e sem o FMI. Sonho de gerações da esquerda brasileira.
Reconhecemos o esforço de milhões para que momentos que vivemos ao longo desta história fossem vivenciados por todos nós. Mas houve um custo político e ideológico percebido nas últimas décadas. Nada de novo: desvios originários da luta por mudanças profundas de táticas e estratégias da esquerda, dos conflitos internos surgiram o Pragmatismo e o Programatismo.
As vitórias eleitorais chegaram e entre elas também tivemos Cavalos de Tróia. Por vezes, o desejar de conquistas rapidamente, investiu-se em candidaturas à Prefeito com potencial eleitoral, mas de baixa qualificação política, às vezes despreparadas administrativamente e até mesmo de duvidosa consistência ideológica. Crescemos em filiações de quadros sem prática social e política, sem vínculo com nossa história, com o nosso passado de lutas políticas intensas e, pior, percebemos tardiamente que parte de nossa militância fatigada pelos conflitos internos já não tinha o mesmo desempenho que marcou nossa história. Mas a leitura do momento apontava para a necessidade em constituirmos alternativa real de poder pela esquerda, o que nos levou a assumimos um atalho: o Pragmatismo. Isto é, o Pragmatismo, aplicado às questões políticas, é a ação desenfreada de realizar o hoje, o agora sem a mediação com princípios, concepções e programas. Fazer ou acontecer sem considerar os efeitos destas ações à médio e longo prazo.
O pragmatismo reforçado pela via eleitoral nos garantiu acesso rápido e seguro ao palco político e de poder. É fascinaste poder concretizar sonhos de séculos e brilhar internacionalmente com uma esquerda possível, dentro dos moldes do capital. Mas isso nos trouxe o perigo da aliança sem critério, dos acordos com princípios duvidosos e com uma estratégia centrada no amanhã e não no futuro de longo prazo.
Por outro lado, muitos setores buscaram o atalho do Programatismo, onde só há crítica, só o Programa amarelado e imune ao tempo, servindo como receita de bolo, propostas idealistas, frases de efeito e repetição de plataformas de 1917, 1949, 1959, 1968 ou 1979, importadas e por analogia como se os países, a cultura e os povos fossem exatamente os mesmos, como se os inimigos estivessem no mesmo estágio tecnológico do passado. Então se estabeleceu o diálogo impossível, de um lado, a esquerda com discurso não absorvido pela população, por ser cheia de jargões, palavras de ordem atemporais, e frases anacrônicas, completamente alheia e inerte diante das mudanças dos tempos trazidas já no fim do século XIX. Do outro lado, a população, por mais que escute, não consegue estabelecer relação entre o discurso hermético do passado com a conjuntura.
Pior ainda para os setores do Programatismo, seria pensar em alianças, afinal, ou o programa entre as forças políticas é exatamente igual ou os possíveis aliados são também inimigos. Portanto, com visão dogmática do programa; sem alianças, sem identificação e sem enraizar-se na população não houve crescimento enquanto força política, o que gerou o seu próprio isolamento. Logo, para o setor do Programatismo não há perspectiva de chegada ao poder.
Os desvios do Pragmatismo e do Programatismo são pauta neste momento, isto é, nem um e nem outro atalho poderão nos fazer avançar para o aprofundamento da luta democrática centrada na distribuição de renda, no desenvolvimento sustentável e, principalmente, na alteração da cultura política que ainda rege as relações políticas no país.
Coisas da Política!

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabens por esta reflexão; parece que saiu da história recente do PT aqui de Maringá. Se carapuça falasse!!!
Um abraço.